resumo da corrida em indianápolis - opinião do alemão
Foi uma corrida divertida. O Jean Todt liberou o Rubens e eu para disputarmos livremente a ponta, o que me deixou bem animado. O Rubens vem correndo muito bem este ano, estou impressionado. No ano passado ele mal se adaptava ao carro e agora até acerta a Ferrari melhor do que eu. Ainda bem que ele não tem uma equipe só pra si.
Consegui fechar a primeira volta na frente, com o Rubens me apertando e querendo chegar de qualquer jeito. No meio da volta o Ross Brown me avisa pelo rádio que o Ralf e o Montoya se estranharam na curva. Mas o que acontece com esses dois? Eu entendo o que faz Ralf não gostar do Juan Pablo, mas eles deveriam colocar os interesses da equipe acima das rixas pessoais. Desse jeito alguém vai ficar sem o carro pra 2004... Pelo menos agora tinha certeza que a corrida ficaria entre eu e o gordinho, hehehe.
[Nota do BOI: vendo o replay, fica CLARO que o Montoya já havia passado na freada e que o Juninho freou lá na puta que pariu pra não tomar uma por fora do colombiano. Aí tinha que rodar mesmo. se fosse o contrário, todo mundo colocaria a culpa no João Paulo.]
Esse acidente me fez lembrar do começo da minha carreira. Tive alguns lances complicados que hoje me deixam reflexivo, como a largada em Donington Park/1993, onde quase joguei o Senna pra fora da pista naquela chuva. E também aqueles dois lances com o Hill e o Villeneuve. Ok, eu era um moleque inconsequente e achava que era melhor que todo mundo. Mas olha só, diziam que o Frentzen era melhor que eu! Nem a própria mulher ele conseguiu segurar... E a ultrapassagem que ele levou do Sato foi ridícula.
E outra cena estranha foi a do Pedro De La Rosa pulando o guard rail. Ele caiu de bunda no chão ou foi impresão minha? Sabe, a 200 km/h a paisagem fica meio borrada...
O tráfego estava muito intenso depois da minha primeira parada. Quando dei por mim, estavam Rubens e Coulthard colados atrás de mim. Culpa daquelas curvas travadas e estreitas do miolo do circuito. Não dá pra fazer nada ali, a não ser acompanhar e esperar o final da reta.
Depois que nos livramos daquela gente toda - e eram ótimas as brigas pelas posições intermediárias - consegui um refresco do Rubens. Ele simplesmente não desistia. Não conseguia ser rápido como na Áustria mas me incomodava. Apertei o rítimo e consegui abrir uns 3 segundos antes da segunda parada, só pra garantir a liderança depois. A parada dele acabou sendo até mais rápida.
Naquelas voltas finais, o Rubens ainda estava atrás de mim, entre 2 e 3 segundos. Convenhamos, o cara é um batalhador. Comeu o pão que o diabo amassou na Stewart e na Jordan e trabalha muito bem para nossa equipe. Não é à toa que estamos ganhando campeonatos consecutivos desde sua entrada. Faltavam 8 voltas pro final e ele contuinuava lá. pegamos uns retardatários, ele ficou um pouco mais longe e finalmente desistiu da corrida.
Sinceramente, eu fiquei chateado pelos acontecimentos da Áustria. Também está no meu contrato a mesma cláusula do Rubens com relação às ordens da equipe. Todo mundo pensa que aquilo meu descontentamento no pódium foi uma encenação - e eu sei que nunca tive uma imagem muito simpática como público. Mas não sou mais aquele jovem arrogante que jogou o carro no Jaques Villeneuve pra ser campeão. Na última volta decidi retribuir o favor que ele me fez em Zeltweg, mesmo que o Jean Todt tenha gritado pra mim no rádio que era pra eu "não dar presentinho algum para ninguém".
"Vai, meu filho. Pode passar."
Deixem-me fazer uma recapitulação rápida. Montreal/2000, Zeltweg/2001, Zeltweg/2002... Eu freei pra ele na Hungria e ontem dei uma vitória na última curva. Podemos dizer que estamos quites. Teve um pessoal lá nas arquibancadas que não gostou, acabaram me vaiando. Mas como eram americanos, acho que não sabiam o que estava acontecendo. Pelo menos agora eles me conhecem e não vão me deixar esperando três horas numa fila pra andar de Nascar...
Michael Schumacher é piloto da Ferrari e pentacampeão mundial de Fórmula 1.