Malásia 2006 - Ele quer vingança
Well done, big boy
Giancarlo Fisichella é a versão italiana de Rubens Barrichello. Ambos são azarados, temperamentais, costumam falar merda nas entrevistas e são filhos de pátrias carentes em grandes ídolos na Formula 1 atual. Mas, principalmente, cedem à pressão quando encontram companheiros de equipe à altura ou melhores do que eles. De Barrichello, todo mundo sabe a história de cor. Porém, vocês se lembram da "wursite" de Giancarlo quando dividiu as garagens da então Benneton com o austríaco Alexander Wurz? E olha que este que não era nem melhor que o Mark Webber...
Depois de passar um ano de terror com a Jordan em 2003 [até errar lugar em grid de largada ele conseguiu], renasceu na Sauber em 2004 [vocês se lembram em cima de quem, não?] e surgiu na Renault em 2005 como aposta certa ao título, em comparação ao perfil impetuoso estigmatizado na figura de Fernando Alonso.
Porém, o que aconteceu foi exatamente o contrário. Alonso deu demonstrações históricas de garra e sangue frio em momentos épicos como a batalha com Schumacher em San Marino. Enquanto isso, Fisichella patinava em problemas mecânicos, desespero e lamentos. Tal qual Rubens em seus anos Ferrari.
Mas ambos conseguem ser absurdamente talentosos quando controlam suas emoções. O "Fisico" ganhou confiança para a corrida depois da pole no sábado; confiança calcada, talvez, bem mais nos seis lugares que separavam ele de Alonso na largada. Sabendo que não corria riscos, partiu para a vitória dependendo de si só - e fez o serviço como deve ser feito. Tem o melhor carro do início de temporada nas mãos e conta com uma certa boa vontade da equipe com ele, já que seu companheiro campeão do mundo tem contrato assinado com a McLaren em 2007. Não fosse por seu latente azar, e os ataques de nervosismo e histeria alimentados pelo sangue quente made in Roma, a luzinha vermelha já estaria piscando nas Astúrias.
Quanto à Rubens, sejamos claros: está apanhando do carro. O importante é que ele teve coragem de assumir isso em rede nacional. "Ah, é o chororô de sempre". Uma pinóia. Anos atrás, ele diria que o controle de tração da Honda é que é uma merda. Desta vez, levantou a mão e, como um aluno confessando a autoria de um aviãozinho voador em sala de aula, levantou a mão e disse "fui eu". Louvável, mas seu compêndio de declarações o pune com o excesso de interpretações as quais tudo o que ele disser pelo resto de sua vida vai carregar.
Como ele já pegou pedreiras piores - e de todas elas só não superou a máfia Schumacher-Ferrari - é questão de tempo para que ele passe a andar perto de Button. Na frente do inglês, pouco provável.
"Quê? Não mandou trocar?"
O ataque de bom mocismo da cúpula da Ferrari tem motivo, sim. Depois da cagada no pit stop pós-rodada no Bahrein, Ross Brawn não iria destruir a corrida de Felipe Massa de novo. Nem os corações mais negros que já tenham passado pelo esporte a motor seriam capazes de tirar o feito dele: de 21º no grid à carimbada na testa do alemão, Massa mostrou que, quando pensa com a cabeça de cima, consegue dar conta do recado excepcionalmente bem. Ao que parece, o moleque vestiu bem o carro e vai cutucar Schumacher eventualmente.
Só precisa parar de brincar de Havoc nas horas inoportunas.
[Estou ouvindo um canto de cisne ao longe, vindo de uma casa na Suíça...]
O resto
McLaren: Montoya, de novo, cozinhando o galo pra chegar nos pontos. Irreconhecível. Já Kimi Raikkonen é um caso de dar pena. Nunca um piloto tão bom foi vítima de uma conjuntura de fatos tão desgraçada. Esqueçam o que eu falei de azar sobre Fisichella: Raikkonen é o pé-frio da década. Quando não é o próprio carro que desmonta, vem um outro cidadão e lhe pórra a suspensão traseira. Como diria Edson Gomes, "injuria até palhaço".
Williams: Mark Webber lembrando seus tempos de Jaguar largando com bafos de gasolina no tanque, Nico Rosberg demonstrando os sinais de uma imaturidade saudavel, daquelas que têm cura; motores Cosworth e seus efeitos belos de pirotecnia e gelo seco, mostrando que não é de uma hora pra outra que a coisa fica tão boa assim. Pode apostar que vai ser assim a temporada inteira: uma no cravo, outra na ferradura.
BMW: Villeneuve demonstrando certa dignidade, Heidfeld mostrando que seria mais se chorasse menos [Raikkonen, Sauber, 2001, vocês se lembram]; motor também com efeitos de pirotecnia em dia. Mas ainda dá sono.
Red Bull: Foi só elogiar o Klien que ele me faz uma merda daquelas...
Toyota: Um ponto para Ralf Schumacher, nenhum para Trulli, um carro de MERDA pros dois. Isso porque os japas tem o segundo maior orçamento da categoria.
MF1 e Toro Rosso: Devolvam-me a Dallara, a Larrouse, até a Osella eu tô aceitando. Aliás, pergunta: minha televisão é tão ruim assim ou vocês também confundem as McLarens, MF1 e Toro Rosso quando estão no meio do bolo?
Super Aguri: Galvão Bueno, sobre uma atrapalhada ultrapassagem de Takuma Sato, que levou o troco ao passar do ponto algumas curvas depois: "Essa foi uma legítima demonstração de como não se pilotar o carro de Fórmula 1". Não que Sato seja tão ruim assim, mas mereceu a destruída. Está no fundo do poço. Yuji Ide é café com leite.
Uma última coisa
Luciano Burti, se tivesse como piloto o mesmo talento que tem como comentarista, ele seria algo no nível de, talvez, Niki Lauda. Pronto, falei.