melbourne 2003 - opinião do BOI
Corrida caótica, resenha ídem.
Senhoras e senhores, a FIA conseguiu. Do Frankenstein das regras, surgiu uma nova "fórmula de Fórmula 1". O que parecia impossível até a um tempo atrás - corridas com disputas de posição e indefinicão de resultados até o fim - aconteceu em Melbourne. Há de se ressaltar também a chuva e os safety cars que embolaram ainda mais os carros. A etapa australiana foi talvez a mais agitada desde o bizarro GP da Europa de 1999 [talvez mais bizarra ainda fosse a própria temporada com Eddie Irvine, o gênio, disputando o título], quando o pódium teve a dobradinha das duas Stewarts de Jonhny Herbert e Rubens Barrichello.
Aliás, este senhor... Rubens Barrichello hoje fez merda, sentou, se lambuzou e dançou break em cima. Deu mais alimento a seus detratores maniqueístas [sim, eles ainda existem]; queimou a largada - até aí tudo bem - e se apavorou quando ficou sabendo da punição, passando reto numa curva relativamente sem complicações. Erro grosseiro para quem não está mais na fase de matar cachorro a grito. Rubens, meu filho, isso deve ter sido só um insight de desespero mas vá com calma, sim? Com as regras novas, tá mole mole pra você e o Queixada perderem pontos fáceis e terem que correr atrás do prejuízo. Aí os óme dão prioridade pro Schumacher e você vai ter de ficar quieto. Não nos faça pensar que a temporada de 2002 foi um acaso.
Agora, não vou chamar Barrichello de burro por causa disso - como naturalmente faria metade da população deste país. Minha mãe chamava Ayrton Senna de burro quando este também fazia das suas [Monaco/88, ela se descabelou de raiva] e o sintoma de achar que os nêgo que corre são de aço perpetuou-se pela década de 90 até os anos Ferrari. E, mesmo assim, se o Barrichello ficasse na pista, não iria além do quinto lugar, já que compartilhava da mesma estratégia de combustível do Alemão.
Alemão este Michael Schumacher, Queixada Senior, Pia Barroca, "O Penta" ou como você preferir chamá-lo. Sofreu um pouco com a sorte - quem diria! - e com a equivocada tática de combustivel de Ross Brown - quem diria!!! - e não foi além do quarto lugar. Sem falar que ele provavelmente sentou no patê; pra ele ter perdido aqueles defletores daquele jeito deve ter dado uma senhora escapada, daquelas que entra meio quilo de brita no radiador. Teria sido aquela maravilhosa defesa de posição de Kimi Raikkonen quando o finlandês forçou Schumacher a sair da pista? Michael demonstrou o quanto é equilibrado o F-2002 nas voltas finais quando ainda conseguia forçar pressão em cima de Raikkonen, mesmo com os problemas. Não parece, mas aqueles defletores são importantes. Uma Jordan não iria tão longe - e tão rápido - sem aquela peça.
Juan Pablo Montoya teve uma tarde de Roberto Guerrero [lembram dele? o cara que rodou na volta de apresentação das 500 milhas de Indianápolis, quando era o POLE]. Foi rápido, mas sofreu nas mãos do sr. Destino sempre ameaçava a liderança. Basta ressaltar que ele havia tirado 8 segundos em TRÊS voltas das Ferraris antes da primeira intervenção do Safety Car [Barrichello - Firman] e que tinha 9 segundos de vantagem para Raikkonen antes da segunda intervenção [Mark Webber]. Quando finalmente estava na liderança, tranquilo e pronto para vencer, desce o santo de Nigel Mansell e ele roda na chicane do final da reta, de forma até ridícula. Ainda conseguiu voltar em segundo, mas os 8 pontos para quem perde uma corrida dessa forma não valem muita coisa. Montoya admitiu o erro e a essa hora ainda deve estar cabeceando a parede.
Kimi Raikkonen vinha perfeito após largar dos boxes. Trinta e duas voltas sem pit stop, rápido e constante para uma então inevitável primeira vitória. Eis que uma punição põe por terra o sonho do finlandês. 1,1 Km/h acima do permitido nos primeiros 10 metros de pit lane. Parafraseando Ron Dennis, "uma punição cruel" para uma corrida perfeita. Acabou em terceiro. Nas disputas com Queixadão, mostrou que não tem medo de ninguém [ano passado jogou Montoya pra fora duas vezes e começou esse ano forçando pra cima do penta]. O finlandês confirmou a paternidade Mika Hakkinen e maternidade Keke Rosberg. Dependendo de como a nova McLaren vier, ameaço dizer que este é O CARA deste campeonato. Como já dizia o batido slogan, "o futuro é aqui".
A vitória de David Coulthard me pareceu mais um acaso, como os vários outros acasos dessa corrida. A chuva colocou mais pimenta nas táticas e Coulthard foi esperto, parando pra pôr pneu de seco logo na segunda volta e repor a gasosa do treino. Não tomou volta e recuperou a vantagem para o resto nas duas entradas do safety car. E ele pareceu ter sido o único piloto na pista que não escapou ou errou ou tomou punição ou algum outro tipo de lerdice. Todos, de alguma forma, simplesmente saíam da frente dele. Natural que tenha caído no colo do dito cujo, o Damon Hill 2 da categoria. Coulthard não passa de um piloto normal, todos sabem disso. Numa equipe pequena, não iria muito longe. Como já começou direto na Williams [e depois foi pra McLaren, onde parasita até hoje] fazer seu nome foi fácil.
Já Ralf "Princesa da Bavária" Schumacher, outro equívoco de marketing, simplesmente não apareceu. Ou melhor, apareceu sim, depois de perder 18 segundos no pit stop, sair desesperado para não perder a [penúltima] posição e rodar na mesma chicane onde rodaria Montoya. Hilário. Depois quase tomou uma piaba não-intencional do Heidfeld. O oitavo lugar foi o suficiente para um piloto que já não merece mais o carro que tem. Quer dizer, não mais do que merecem um Pizzonia, Da Matta, Fisichella, J. Villeneuve, Button...
Ralf, go home.
Do pelotão intermediário, os destaques vão obviamente para H. H. Frentzen e sua Sauber, conseguindo manter na corrida o nível dos treinos; e para a equipe Renault e seu carro aparentemente confiável conseguindo levar ao final seus dois pilotos, Fernando Alonso e Jarno Trulli, entre os oito primeiros. Olivier Panis, 5º no grid, também estaria nos pontos se não tivesse quebrado, o que dá uma boa perspectiva para a Toyota este ano. Mark Webber surpreendeu [não a mim] chegando a andar em sexto e só não marcando pontos devido à quebra da suspensão traseira de seu carro. Estes, mais Nick Heidfeld, foram protagonistas de disputas ferozes nas primeiras voltas da corrida. Cleber Machado na Globo não sabia o que narrar. Fantástico.
Na turma do desespero, a Jordan tem um carro ruim e Giancarlo Fisichella terá de se desdobrar para não afundar sua carreira este ano, pois o título de piloto mais azarado do circo já é dele [Rubens passou a faixa ano passado]; o italiano passou por cima dos destroços da batida de seu companheiro Ralph Firman, detonou o carro e se arrastou pela pista enquanto esteve na prova. A Minardi tentou driblar o regulamento dos treinos e viu o rookie Justin Wilson andar em 9º antes de ter ser radiador perfurado por detritos. Jos Verstappen andou em último quase o tempo todo. A BAR foi bem nos treinos com J. Villeneuve mas na corrida foi um desastre. Jenson Button freou acintosamente para não passar o canadense no final.
Os nossos estreantes não foram muito bem. Cristiano da Matta errou uma freada e foi parar na brita. Ao menos demonstrou personalidade em admitir o erro e em parecer claramente irritado com as insistentes perguntas dos repórteres. Promete melhorar durante o ano. Antonio Pizzonia, prejudicado pela mudança repentina de tática de sua equipe, iria terminar a prova se não fosse a quebra da suspensão de sua Jaguar - o mesmo problema de Webber, seu companheiro.
Após a prova, Rubens Barrichello deu uma declaração meio chorosa aos repórteres:
"O carro da Ferrari foi superior durante todo o final de semana e acabou a corrida em quarto. Acho que [as regras] mexeram, um pouquinho."
Talvez seja só uma ilusão de uma confusa e maravilhosa corrida mas também acho que as coisas vão finalmente mudar. Não que a Ferrari vá deixar de dominar o campeonato - pessoalmente eu acho que a temporada acaba quando a F2003-GA estrear - mas as coisas vão ficar mais difíceis pra eles. Pois é, Barrichello, agora não são mais os engenheiros que correm. Os pilotos voltaram.