Tuesday, September 05, 2006

Eu estava lá, no início da reta...

Sunday, March 19, 2006

Malásia 2006 - Ele quer vingança


Well done, big boy


Giancarlo Fisichella é a versão italiana de Rubens Barrichello. Ambos são azarados, temperamentais, costumam falar merda nas entrevistas e são filhos de pátrias carentes em grandes ídolos na Formula 1 atual. Mas, principalmente, cedem à pressão quando encontram companheiros de equipe à altura ou melhores do que eles. De Barrichello, todo mundo sabe a história de cor. Porém, vocês se lembram da "wursite" de Giancarlo quando dividiu as garagens da então Benneton com o austríaco Alexander Wurz? E olha que este que não era nem melhor que o Mark Webber...

Depois de passar um ano de terror com a Jordan em 2003 [até errar lugar em grid de largada ele conseguiu], renasceu na Sauber em 2004 [vocês se lembram em cima de quem, não?] e surgiu na Renault em 2005 como aposta certa ao título, em comparação ao perfil impetuoso estigmatizado na figura de Fernando Alonso.

Porém, o que aconteceu foi exatamente o contrário. Alonso deu demonstrações históricas de garra e sangue frio em momentos épicos como a batalha com Schumacher em San Marino. Enquanto isso, Fisichella patinava em problemas mecânicos, desespero e lamentos. Tal qual Rubens em seus anos Ferrari.

Mas ambos conseguem ser absurdamente talentosos quando controlam suas emoções. O "Fisico" ganhou confiança para a corrida depois da pole no sábado; confiança calcada, talvez, bem mais nos seis lugares que separavam ele de Alonso na largada. Sabendo que não corria riscos, partiu para a vitória dependendo de si só - e fez o serviço como deve ser feito. Tem o melhor carro do início de temporada nas mãos e conta com uma certa boa vontade da equipe com ele, já que seu companheiro campeão do mundo tem contrato assinado com a McLaren em 2007. Não fosse por seu latente azar, e os ataques de nervosismo e histeria alimentados pelo sangue quente made in Roma, a luzinha vermelha já estaria piscando nas Astúrias.

Quanto à Rubens, sejamos claros: está apanhando do carro. O importante é que ele teve coragem de assumir isso em rede nacional. "Ah, é o chororô de sempre". Uma pinóia. Anos atrás, ele diria que o controle de tração da Honda é que é uma merda. Desta vez, levantou a mão e, como um aluno confessando a autoria de um aviãozinho voador em sala de aula, levantou a mão e disse "fui eu". Louvável, mas seu compêndio de declarações o pune com o excesso de interpretações as quais tudo o que ele disser pelo resto de sua vida vai carregar.

Como ele já pegou pedreiras piores - e de todas elas só não superou a máfia Schumacher-Ferrari - é questão de tempo para que ele passe a andar perto de Button. Na frente do inglês, pouco provável.

"Quê? Não mandou trocar?"

O ataque de bom mocismo da cúpula da Ferrari tem motivo, sim. Depois da cagada no pit stop pós-rodada no Bahrein, Ross Brawn não iria destruir a corrida de Felipe Massa de novo. Nem os corações mais negros que já tenham passado pelo esporte a motor seriam capazes de tirar o feito dele: de 21º no grid à carimbada na testa do alemão, Massa mostrou que, quando pensa com a cabeça de cima, consegue dar conta do recado excepcionalmente bem. Ao que parece, o moleque vestiu bem o carro e vai cutucar Schumacher eventualmente.

Só precisa parar de brincar de Havoc nas horas inoportunas.

[Estou ouvindo um canto de cisne ao longe, vindo de uma casa na Suíça...]

O resto

McLaren: Montoya, de novo, cozinhando o galo pra chegar nos pontos. Irreconhecível. Já Kimi Raikkonen é um caso de dar pena. Nunca um piloto tão bom foi vítima de uma conjuntura de fatos tão desgraçada. Esqueçam o que eu falei de azar sobre Fisichella: Raikkonen é o pé-frio da década. Quando não é o próprio carro que desmonta, vem um outro cidadão e lhe pórra a suspensão traseira. Como diria Edson Gomes, "injuria até palhaço".

Williams: Mark Webber lembrando seus tempos de Jaguar largando com bafos de gasolina no tanque, Nico Rosberg demonstrando os sinais de uma imaturidade saudavel, daquelas que têm cura; motores Cosworth e seus efeitos belos de pirotecnia e gelo seco, mostrando que não é de uma hora pra outra que a coisa fica tão boa assim. Pode apostar que vai ser assim a temporada inteira: uma no cravo, outra na ferradura.

BMW: Villeneuve demonstrando certa dignidade, Heidfeld mostrando que seria mais se chorasse menos [Raikkonen, Sauber, 2001, vocês se lembram]; motor também com efeitos de pirotecnia em dia. Mas ainda dá sono.

Red Bull: Foi só elogiar o Klien que ele me faz uma merda daquelas...

Toyota: Um ponto para Ralf Schumacher, nenhum para Trulli, um carro de MERDA pros dois. Isso porque os japas tem o segundo maior orçamento da categoria.

MF1 e Toro Rosso: Devolvam-me a Dallara, a Larrouse, até a Osella eu tô aceitando. Aliás, pergunta: minha televisão é tão ruim assim ou vocês também confundem as McLarens, MF1 e Toro Rosso quando estão no meio do bolo?

Super Aguri: Galvão Bueno, sobre uma atrapalhada ultrapassagem de Takuma Sato, que levou o troco ao passar do ponto algumas curvas depois: "Essa foi uma legítima demonstração de como não se pilotar o carro de Fórmula 1". Não que Sato seja tão ruim assim, mas mereceu a destruída. Está no fundo do poço. Yuji Ide é café com leite.

Uma última coisa

Luciano Burti, se tivesse como piloto o mesmo talento que tem como comentarista, ele seria algo no nível de, talvez, Niki Lauda. Pronto, falei.

Monday, March 13, 2006

Bahrein 2006 - Alonso's not dead


Vai, Massa. Vai pra puta que pariu.

Como não deu tempo de fazer uma análise decente, taí uma avaliação piloto-a-piloto que, creio eu, seja mais prática. Mas não vai se tornar o hábito. Espero.

1) Fernando Alonso - 9,0

Deu o tal do "nó tático" em Schumacher, que provou do próprio veneno ao parar antes do espanhol na segunda rodada de pit stop. Sinceramente, não achava que a Renault fosse voltar com esse gás todo. Alonso vai pro bi, sem dó.

2) Michael Schumacher - 8,0

Nota pela pole, mais do que pela corrida em si. Pressionou Alonso no final e mostrou que vem pra brigar pelo octa com a mesma sede de antes. Tenham medo.

3) Kimi Raikkonen - 9,0

Kimi Hakk... Amo... Barrich... Raikkonen, o homem mais azarado da Formula 1, de novo provou que seu talento é diretamente proporcional à sua falta de sorte. Do fundo do grid ao pódio. Se bem que ele já se acostumou. Daqui a pouco vai pedir de volta a Sauber de 2001, pelo menos para os treinos. Dá pena ver o que esse rapaz sofre...

4) Jenson Button - 7,0

Começou bem, ganhando a disputa com Rubens, mas não teve carro pra acompanhar os líderes. A Honda parece que deu uma de Benneton nos bons tempos e fez uma bela propaganda do carro na pré-temporada, mas mascarou que o bólido carece de algo mais. Talvez rítimo de corrida, talvez durabilidade. Ou talvez seja o caso de o carro ser só o quarto melhor do grid, mesmo.

5) Juan Pablo Montoya - 5,0

Correu o tempo todo com o carro mais leve que o de Raikkonen, não teve que passar 17 carros e terminou mais de 20 segundos atrás do finlandês. Péssimo para quem já arrancou um suspiro apaixonado de Reginaldo Leme em 2002: "isso é piloto pra ganhar campeonato do mundo". Estamos vendo. Acerto de carro não é desculpa pra tal disparate. Perder a terceira marcha, sim.

6) Mark Webber - 6,0

Não foi surpresa pra ninguém o bom desempenho das Williams com a regra dos V8, e apenas a isso credito essa posição a Mark Webber. Melhor ele abrir o olho, senão vai tomar pau do cara que já aponta como rookie of the year, o finlandês

7) Nico Rosberg - 8,0

que cansou de fazer volta mais rápida durante a corrida; ok, tudo bem, estratégia de três paradas, mas o moleque correu bem perto [no tempo de volta, claro] de um cara que já está na brincadeira há quatro anos. Nico parece ter no sangue [e na nacionalidade, e no sobrenome, e no...] o tino pro negócio. Aguardemos os próximos capítulos.

8) Christian Klien - 7,0

Tou começando a desconfiar que esse cara é bom. Tudo bem que bater David Coulthard não é mérito pra ninguém, mas ele vem sistematicamente sendo superior ao experiente [e novamente incompetente] escocês que começou 2005 tentando lembrar o piloto que acenava ser em 1995, mas que de novo voltou ao limbo da mediocridade - de onde, na real, nunca saiu. Este blog aposta em Klien como o Gerhard Berger dos anos 2000. Sem tanto carisma, mas com igual competência.

Os brazileiros:

9) Felipe Massa - 0,0

Rodada besta, inaceitável. Aos detratores de Rubens Barrichello: quantas vezes vocês o viram rodar sozinho com Ferrari? Duas, três em seis anos? Que Felipe Massa é tampão de Kimi Raikkonen, isso todo mundo sabe. O que não passa na cabeça dele é que, de uma forma ou outra, está escrevendo seu nome na história como um piloto Ferrari - e que é observado por todos para 2007 [na Ferrari é que não fica]. Se continuar pilotando como quem pilotava pra Sauber, sem nada a perder, pode ir procurando um lugar na carniceria da IRL...

15) Rubens Barrichello - 3,0

Perdeu a disputa com Button [acostumem-se] e a terceira marcha do meio pra frente da prova. Não podia fazer absolutamente nada a respeito e levou o carro até onde deu. Deu que completou a corrida num medíocre 15º lugar. Entretanto agora nós sabemos o que pode acontecer com o cidadão em rítimo de corrida - ou seja, batalhar pódiums e vitórias em situações, digamos, mais inusitadas. Com certeza é melhor que a punhetação da certeza do segundo lugar ferrarístico. Podemos sonhar com dias melhores para o gordo.

Os outros:

10) David Coulthard (ESC/Red Bull-Ferrari/M), a 1min15s541
11) Vitantonio Liuzzi (ITA/Toro Rosso-Cosworth/M), a 1min25s900
12) Nick Heidfeld (ALE/BMW Sauber/M), a 1 volta
13) Scott Speed (EUA/Toro Rosso-Cosworth/M), a 1 volta
14) Ralf Schumacher (ALE/Toyota/B), a 1 volta
16) Jarno Trulli (ITA/Toyota/B), a 1 volta
17) Tiago Monteiro (POR/MF1-Toyota/B), a 2 voltas
18) Takuma Sato (JAP/Super Aguri-Honda/B), a 4 voltas

NÃO COMPLETARAM, Nº DE VOLTAS/MOTIVO:

Yuji Ide (JAP/Super Aguri-Honda/B), 35/mecânico
Jacques Villeneuve (CAN/BMW Sauber/M), 29/motor
Giancarlo Fisichella (ITA/Renault/M), 21/hidráulico
Christijan Albers (HOL/MF1-Toyota/B), 0/semieixo

Saturday, March 11, 2006

Bahrein 2006 - classificação


Admita: você estava com saudades dele

Oito da manhã, Av. Santa Ifigênia no centro de SP. Enquanto eu procurava mais penduricalhos de fazer som, percebi algumas pessoas olhando fixamente a televisão. Observavam Felipe Massa puxar o trem que trazia toda a rapaziada [menos Kimi Raikkonen... Puta que pariu, McLaren!] nesse novo sistema de treinos que, admito, eu só fui entender hoje. Não pude parar pra ver o treino inteiro, mas pareceu ser divertido.

Mas não vai ser nada divertido se o alemão voltar a se engraçar a ganhar tudo de novo. A Ferrari começa a dar sinais que escondeu o jogo durante a pré-temporada e o último grande recorde da F1 que não era do alemão, acaba de ir pro espaço. Ele ainda divide o nº de pole-positions com Senna, mas o nome do filha da puta está lá. Nada mais natural considerando os números absolutos de ambos, que Schumacher também conseguisse mais essa. Mas, claro, restava um mínimo de esperança no coração de todos que ao menos esta marca ficasse imaculada pelo Queixadão.

O que renova minhas esperanças é que todo mundo andou perto. Button a 1 centésimo de Massa, Alonso a 2 centésimos; do Montoya pra trás não conta. Não, eu não estou pegando no pé do nosso amigo colombiano, mas se o próprio me vem a público dizer que o 5º lugar foi uma surpresa... Barrichello, o sexto, declarou que não conseguiu acertar o carro, ou seja, melhor entregar pra deus e esperar coisa melhor na Malásia. Para efeito de registro, é a primeira chapuletada que leva do Button. Corre pra pontuar ou, no máximo, um pódium. Nossas ínfimas chances de vitória na manhã deste domingo estão nas mãos do rapazinho de língua plesa.

"'Ínfimas'? Mas o Felipe Massa ficou a menos de 0,5 centésimo do Schumacher". E o Rubens Barichello ficou a 0,2 centésimo na primeira classificação que ele e o alemão fizeram juntos. Grande coisa. Se o Massa começar a ser mais rápido que ele na pista, vai começar a receber aquele tratamento que nós conhecemos muito bem nos anos Barrichello.

Ou você acha que vão deixar o Massa ganhar alguma coisa no último ano do alemão na Formula 1? Vai sonhando, macaco.

@@@

Nota triste: Midland. Uma dupla de pilotos altamente subestimados num carro horrível, fazendo número. Tiago Monteiro provou em 2005 que não é só mais um playboyzinho brincando de autorama. E Christjan Albers é velho de guerra nas pistas de turismo europeu. Que a síndrome de Cristiano Da Matta não pegue nestes dois.

@@@

Apostinha:

1) Queixada 7x
2) Massa
3) Alonso
4) Button
5) Barrichelo
6) Fisichella
7) Webber
8) Klien

Bem ortodoxo, pra começar.

Friday, March 10, 2006

Bahrein 2006 - treinos livres


Provavelmente vocês não o verão com uma cara
diferente durante este ano

Ok, ok, é muito cedo pra dizer qualquer coisa, mas esse melhor tempo do Anthony Davidson nos treinos livres é altamente animador. Como avaliou Flávio Gomes numa coluna no fim de janeiro: a Ferrari vem em recuperação de um ano desastroso, a Renault com Alonso pensando em 2007 pode balançar, a McLaren surge de novo com confiabilidade zero [por quantas décadas mais, Mercedes?] e a Williams é a única que pode surpreender positivamente por trabalhar com a Cosworth, tradicional fabricante de motores V8, mas o chassi é uma incógnita.

E a Honda é a que apresentou os melhores números nos testes da pré-temporada.

Bom para o nosso Rubens Barrichello, que finalmente tem uma franca oportunidade de mostrar o talento que tem por trás daquela cara de bobo e que irrita tantas viúvas de Senna e Piquet por aí. Só tem que tomar cuidado com o excesso de otimismo que grandes resultados iniciais possam trazer. Uma, porque Rubens pode muito bem tomar um belo dum couro do companheiro Jenson Button, piloto igualmente rápido e que conhece a equipe há bem mais tempo. O que pesa contra Button: Barrichello é capaz de ser espetacular quando está motivado, e é um ótimo acertador de carros [Já disse anos atrás: não foi à toa que a Ferrari só saiu da fila em 2000. Teve uma mãozinha da Mercedes de Hakkinen em Indianápolis, mas foi só pra garantir]. A favor do inglês, há o fato que Rubens cede sob pressão. E não há experiência que cure esse mal.

Segundo, porque na Ferrari, Mclaren e Renault não tem ninguém bobo, e mesmo que comecem abaixo das expectativas, vão invariavelmente dominar o campeonato do meio pra frente. Ou seja, tudo apontando para uma temporada excelente. Seria ainda mais excelente se tivéssemos a corrida em Spa, mas como nem tudo é perfeito...

Se for pra apostar em alguém para o domingo, coloco minhas fichas nos carros da Honda. Sem contar que o japa mais bobo trabalhando ali deve gastar umas 16h/dia pensando em como fazer o carro ganhar ínfimos milésimos. E o pentacampeonato entre 1987 e 1991 é honra digna o suficiente de ser defendida pelos nipônicos.


@@@

Já o rapaz da foto tem um ano pra mostrar que consegue chegar mais perto de Schumacher do que Barrichello foi capaz. É um piloto com estilo que agradaria muito ao mito Enzo Ferrari, mas carece de pensar um pouco mais com a cabeça de cima. Torce feito um louco para Queixada "7x" se refugiar pra sempre em sua mansão na Suíça e poder fazer dupla com Raikkonen em 2007. Caso continue com suas gracinhas de bater toda hora, rodar, sair da pista imprudentemente e etc, pode é ir parar na Toro Rosso...

@@@

Montoya? Fisichella? Não me faça rir.

Friday, November 19, 2004

Michael Schumacher começou no automobilismo em 1989. O que ele fazia antes disso? Pouca gente sabe, mas ele já fez sucesso mundial com um grupo muito conhecido dos anos 80, o Tears For Fears.


Michael Schumacher e Roland Orozabal, o Tears For Fears.


Teu passado te condena.

Saturday, May 01, 2004

Quinze anos

[Texto escrito em 2004, na ocasião da memória dos 10 anos de morte de Senna.]


"- Esta é uma notícia que nunca gostaríamos de dar. Morreu Ayrton Senna da Silva."


Minha infância acabou às 13h18 do dia 1º de maio de 1994. Foi Roberto Cabrini quem decretou, ao dizer ao vivo essas palavras acima, que ainda ressoam na cabeça de muita gente.

Na véspera, fui com meu pai ao aeroporto de Cumbica levar meu tio, que iria pra Curitiba. Não vi o treino oficial. Do próprio aeroporto, liguei para o seu Paulo, meu padrinho, com quem me encontraria depois.

- Quem ficou em primeiro?
- O Senna! Mas morreu um hoje!
- Como assim? Quem morreu?
- Um austríaco, esqueci o nome.


Por um segundo tentei lembrar o nome de todos os austríacos do grid e só recordei Gerhard Berger, da Ferrari, e Karl Wendlinger, da Sauber. Nunca lembraria de Roland Ratzemberger, piloto da minúscula equipe Simtek, que só tinha conseguido classificação na segunda corrida da temporada: o malfadado GP do Pacífico. Gelado pela possibilidade de ter sido Berger o morto [é um dos meus pilotos preferidos até hoje] cheguei na casa do seu Paulo e voei para a televisão. Ainda não havia começado nenhum noticiário de esporte. Acreditava ter sido o Wendlinger.

- Você não lembra mesmo? Era Berger ou Wendlinger?
- Não... Não lembro mesmo.


Tentei lembrar mais nomes em vão até que começou o Globo Esporte e apareceram as imagens do acidente. Ratzemberger. Uma criança de 11 anos não costuma alimentar muita simpatia por pilotos desconhecidos [que não sejam os folclóricos japoneses] e não tive mais do que um fio de espanto ao ver a batida. Lamentei apenas, e achei que tivesse sido falha de estrutura do carro, era um time iniciante, aquela coisa toda. Na minha inocência, achei que era toda a merda possível de acontecer num fim de semana. Rubens Barrichello ferido na sexta, Ratzemberger morto no sábado. Nada poderia mais dar errado.

Seu Paulo e dona Cida voltaram com a gente para Taubaté. Eles estavam vendo TV com a minha avó Ilia em 1976, quando aconteceu aquele acidente horrível que desfigurou Niki Lauda, em Nurburgring. Ao vivo. E acompanhariam a corrida comigo.

Domingo, 9h da manhã. Faltei ao catecismo para ver a corrida. Não era Jesus Cristo a quem eu queria reverenciar naquela manhã. A televisão mostra o rosto de Ayrton Senna da Silva pela útlima vez ao mundo, ajeitando sua bala-clava. Nunca Senna tirara seu capacete no grid. Vamos para os comerciais. Voltamos dos comerciais. Volta de apresentação. Largada. Pedro Lamy bate em J.J. Lehto, joga destroços nas arquibancadas e fere nove espectadores. O clima da corrida já estava pesado por tudo o que havia acontecido mas, particularmente ali, começou uma certa tensão no ar. Parece meio forçado, dito isso hoje, mas o clima ficou pesado, como se algo pior estivesse para acontecer; como se o perigo ainda não tivesse passado.

Volta seis, o safety car sai da pista. Senna na frente, Schumacher bem próximo. Volta sete. A TV corta para a câmera on-board de Schumacher na Tamburello. No meio da curva, a Williams de Senna dá uma guinada à direita e bate violentamente. Galvão:

- Senna bateu forte!

"Trinta pontos!", foi a primeira coisa que pensei. Schumacher vencera as duas primeiras corridas e, com a regularidade da Benneton, ganharia em Ímola também. Já Ayrton tinha três abandonos em três corridas. Pra Senna reduzir aquela diferença, seria muito difícil. Pensei nisso tudo até me tocar que Senna não havia saído do carro. Mas ele iria sair uma hora. Devia ter desmaiado, coisa da desaceleração e tal. É normal. O Christian Fittipaldi desmaiou quando bateu com a Minardi daquela vez. O Barichello também. Ele iria acordar, sair do carro amparado pro médicos, ir pro ambulatório e ficar uns dias de molho. Como todos os outros.

Ímola, 1989: Gerhard Berger em sua Ferrari, na segunda volta do GP, bate violentamente na Tamburello. O carro pega fogo, numa das cenas mais assustadoras da história do automobilismo. Imediatamente socorrido, Berger foi levado às pressas pela ambulância ao ambulatório do circuito. Os tifosi, atônitos, aguardavam informações de um de seus heróis [Monza, 1988, procurem no YouTube]. Minutos depois, pelas caixas de som, foi anunciado que Berger passava bem. O que se ouviu foi uma comemoração impressionante, como - desculpem pelo menos este cliché - um gol da Itália em final de Copa do Mundo. Achei que aconteceria o mesmo com Ayrton.

Nada fazia sentido. O carro não estava tão destruído quanto o de Ratzemberger ["Carros de ponta são mais seguros."], todo aquele procedimento médico parecia desnecessário ["Eu vi o cara mexendo a cabeça, merda!"], tantos outros haviam sofrido acidentes piores em impacto e saíram andando. Era o Senna, porra, era um super-humano fisicamente. Não era pra ser daquele jeito. Desaceleração não faz aquilo. Pra quê a porra do helicóptero? O que é aquele sangue no chão? Por que demoraram tanto para começar o socorro? O QUE ERA AQUILO, AFINAL?

Começa a corrida novamente. Schumacher em primeiro, irredutivelmente até o fim. Antes, o pneu de Pierluigi Martini escapa após um pit stop e atinge um mecânico da Minardi, que vai para o hospital. Pelo amor de deus, terminem essa corrida e voltem pra casa. Voltei a pensar nos trinta pontos. Senna não tinha o melhor carro, e agora estava machucado. Traumatismo craniano, "estado muito grave". Então, horas mais tarde, veio o plantão da Globo e o Cabrini. Ayrton Senna da Silva, 34 anos, morto. A situação era a mais irreal com a qual eu já havia tomado contato. Na verdade, eu é que não queria acreditar. A ficha simplesmente não caía.

A Williams FW-16 nº2 guinou para a direita em plena Tamburello. Não foi em linha reta, nem saiu de traseira, não bateu no muro de dentro. O carro foi pra DIREITA, porra. Damon Hill disse anos depois que Senna errou. Gostaria que ele explicasse pra mim qual erro foi esse. Só se Ayrton tivesse virado o volante pro lado errado, porra. Como pode um Formula 1 sair de frente naquela situação por "erro" do piloto?

Acompanhei a Formula 1 na época de uma segurança ilusória. Oito anos sem fatalidades entre pilotos. Doze anos sem morte em GPs. Martin Donelly quase morreu numa Lotus em 1990, "mas Lotus são carros assassinos por natureza, desde Colin Chapman". Não importa. Como bem disse Edgard Mello Filho nas transmissões da extinta TV Manchete: "Será que era necessário que, pra alguém lembrar da segurança, a Fórmula 1 precisasse ferir quatro e matar dois?". Ninguém levou em conta o acidente de Jean Alesi na pré-temporada, que o tirou das primieras corridas. Ninguém levou em conta a batida entre Jos Verstappen, Martin Brundle e Eddie Irvine no Brasil. Quinze dias depois, a Formula 1 quase assassinaria Karl Wendlinger, o austríaco a quem eu inicialmente matara no sábado em Ímola, nos treinos para o GP de Mônaco. Karl ficou três meses em coma e nunca mais voltou a ser o bom piloto que era.

No Fantástico, aquela noite, milhares de teorias sobre o que havia acontecido. Médicos, engenheiros pilotos. Nelson Piquet, na única vez que o vi medindo as palavras, disse que "era uma batida típica de problema na suspensão". Queria adivinhar o ovo de Colombo, já que o Williams de Senna tinha problemas crônicos de resistência na então "revolucionária" suspensão mecânica traseira. Mas parecia não ser a pretensão de Piquet querer saber mais do que todos alí, como era de costume. Devia estar se lembrando do seu próprio acidente em Indianápolis, 1992, onde - talvez refletisse - passou muito mais perto da morte do que imaginara.

Fui dormir aquela noite ainda sem ter dimensão do que tinha acontecido. Quando meses depois foi revelado que ele morreu com uma lasca de barra de suspensão atravessada na cabeça - que entrou por uma imensa infelicidade na têmpora de Ayrton - aí sim tive vontade de chorar de verdade pela primeira vez. Mas chorar de raiva. A fenda no capacete era mínima. Senna não foi atirado do carro como Gilles Villeneuve, não foi morto por infecção hospitalar como Ronnie Peterson, não morreu queimado como Roger Williamson e Lorenzo Bandini, não foi degolado por uma lâmina de guard-rail como Francois Cevert e Helmut Könnigg. Senna foi morto por uma lasca de braço de suspensão. Incrivelmente cruel.

Segunda-feira. Trinta e oito fãs do Senna surgem na minha sala de aula. O curioso é que até então nunca ninguém da minha turma da quinta série tinha se interessado em conversar comigo sobre automobilismo. As meninas choravam como se a mãe delas é quem tivesse morrido. Imploravam pelos pôsteres que saíram nos jornais daquela semana. Não deviam saber o nome de três pilotos de cor. Nunca tinham visto uma corrida de automóvel do início ao fim. E choravam. Eu, que comprava revistas americanas sobre corridas sem saber nada de inglês, tentava prestar atenção na porra da aula.

Foi a primeira vez que eu percebi como estava rodeado por gente idiota no mundo. Era o MEU ÍDOLO, porra, EU é quem deveria estar chorando feito uma bicha. EU levantava todo santo domingo às 8 horas, tomava café e esperava religiosamente até às 9 da manhã para ver mais uma vez aquele bando de idiotas arriscando a vida no ato de ludismo mais imbecil possível. EU decorava o nome de cada retardatário que ele ultrapassava, incluindo a equipe e o motor que usava. E eu não estava chorando, porra... Talvez porque tenha acontecido algo pior comigo. Com a morte de Senna, perdi meu bálsamo. Antes, o mundo poderia cair ao meu redor; se Ayrton Senna derrotasse Alain Prost naquela manhã de domingo, eu estaria feliz. Na mesma época, com "ajuda" da escola, descobri que era disléxico, depressivo e burro. Nunca procurei ajuda médica porque isso era vergonhoso, demonstrava fraqueza. Eu precisava de uma muleta emocional permanente pra viver. Até então essa muleta atendia por Ayrton Senna da Silva.

Todos esperavam que Senna quebrasse os recordes de Juan Manuel Fangio. Até o próprio argentino queria assim, pois dizia que aqueles números eram "um fardo em suas costas" e via Senna como o único a poder tirá-lo. Talvez conseguisse, talvez não. Fangio faleceu com seu fardo em 1995. Não viveu para presenciar os 6 títulos e atuais 74 vitórias de Michael Schumacher, o herdeiro de uma Formula 1 sem grandes pilotos. Engraçado perceber que o alemão entrou numa Formula 1 que tinha nomes do quilate de Piquet, Prost, Mansell, Berger, entre outros, talvez a maior safra de campeões da história da categoria. Hoje, temos Raikkönen e Barrichello que, no máximo, são bons [particularmente desisti de Montoya - e Jenson Button é um pouquinho melhor do que Damon Hill, só]. Schumacher foi o único que restou dos grandes, correndo contra três ou quatro razoáveis que dirigem carros idem e um restante de juniores. Schumacher não merecia viver da incompetência alheia, como vive. Tem talento de sobra para encarar qualquer um daquela lista no mesmo nível, porém foi obrigado a disputar títulos com Damon Hill e David Coulthard. Quis o destino assim. Recordes construídos em cima de incompetentes.

Depois de Senna, torci sim por Barrichello, e muito, mas sempre soube de suas limitações tanto como piloto quanto com seu equipamento. O que fizeram com esse cara é absolutamente normal num país de carência emocional tão forte quanto o Brasil. Queriam que ele tivesse performances memoráveis, brigas emocionantes, jogasse gente pra fora, voasse no molhado, etc. Pelo menos em uma corria ele lembrou o campeão: em Mônaco, 1997, sob uma chuva descomunal, completou sua única corrida naquele ano com a Stewart-bomba em segundo lugar, atrás de Schumacher. Assim como Senna fizera em 1984, com um carro mediano, chegando apenas com Prost à frente. Até hoje tenho clara na minha mente a imagem de Senna abandonando o GP de Mônaco de 1988 - bateu numa curva besta após impor 50 segundos de vantagem sobre Prost. Assim que a TV mostrou a imagem dele saindo do carro, minha mãe levantou do sofá e gritou "BURRO!". Logo o Senna, burro. É do que chamam o Barrichello até hoje, só que infelizmente ele não ganhou três títulos mundiais. Talvez as meninas choronas da quinta série possam falar mais sobre isso.

O problema todo é que Senna acabou virando um mito espiritual demais. Banalizaram a sua arte, acham que qualquer coisa que ele fez foi obra do divino. Hoje, todos são fãs do Senna, assim como também foram fãs do Gustavo Kuerten há alguns anos. Amanhã, quando toda essa celebração passar, ninguém mais vai lembrar da volta mágica de Donington Park em 1993, repetida à exaustão nos últimos dias. Ninguém mais vai lembrar que o único recorde que Schumacher não quebrou ainda é o recorde de poles. Ninguém mais vai se lembrar de coisa alguma, de dados levantados para serem vomitados em conversas de bar seguidos de frases do tipo "o cara era foda mesmo". Senna não era deus, nunca foi e nunca será. Por que ninguém aí lembrou que Senna agredia fisicamente qualquer Schumacher ou Irvine que o bloqueasse na pista como retardatário? Por que ninguém lembrou que ele também bloqueou companheiros de equipe por onde passou, assim como Piquet fez com ele antes? Ayrton Senna da Silva, o segundo mais importante esportista brasileiro de todos os tempos, não era deus. Era o meu ídolo, sim, mas não era deus. Era justamente o meu ídolo por ser humano.

Pensei em várias formas de terminar esse texto desconexo e nenhuma ficou legal. Na verdade, a melhor forma seria mostrar uma edição de melhores momentos com os créditos subindo, que foi como quase todos os programas esportivos da semana encerraram suas edições. Eu pegaria apenas uma corrida para editar: GP do Brasil de 1993. Davi x Golias, Senna e sua McLaren "semi-mecânica", 9 km/h mals lenta que as Williams Pentium 4 de Prost e Hill. A ultrapassagem sobre Hill no Laranjinha é alvo de estudo até hoje - de slick no molhado e fora do traçado que já formava trilho. Ele dirigia como um insano, sem nada a perder. Ninguém seria capaz de alcançá-lo aquele dia. Para mim, a maior vitória de todas. O final épico com a invasão de pista. Fantástico.

Obrigado, Ayrton. Por essas e outras pequenas alegrias na minha vida.

Labels: , , ,

Monday, September 29, 2003

Não estou escrevendo sobre os últimos GPs aqui por falta de tempo [e saco] mas a corrida de ontem só comprovou o que eu andei dizendo para quem me conhece: se tem/tinha alguém pra disputar com o Schumacher é/seria Kimi Raikkonen e não Juan Pablo Montoya.

Sim, é lindo ver o colombiano correndo, agressivo à moda antiga, mas vocês viram o que ele fez com o Barrichello? Como ele pode ser campeão do mundo caindo em armadilhas tão óbvias? Claro que a Ferrari mandou Barrichello vender caro a posição. Só que nosso amigo Pablo se desesperou e mandou Rubens e o título pra bosta. Tudo bem que ele teria poucas chances na chuva mas, mesmo assim, essa atitude só mostra que ele ainda não aprendeu a dominar a sí próprio como domina seu Williams.

Ok, Raikkonen fez algumas besteiras durante o campeonato, mas levemos em conta que Kimi tem bem menos experiência que Montoya, se considerarmos todo o tempo de carreira dos dois. O colombiano já é cavalo velho, um caso perdido; Kimi é um [grande] piloto em formação.

Mas, enfim, Schumacher tem todo o mérito pelo hexa porque ontem correu pra caralho.

Sunday, August 03, 2003

hockenheim 2003 - opinião do BOI

É "impsionante" esse tal de Ralfete Schumacher, o pederasta voador. Quando eu falei em "número da besta" para David Coulthard, por seu tempo de classificação em 1'10''666, mal sabia eu o que estava por vir. Vocês se lembram do Queixadinha decolando pra cima de Rubens Barrichello na largada da corrida da Austrália ano passado? É, o raio caiu de novo no mesmo lugar.

Situação em Melbourne 2002: Rubens na pole, Michael Schumacher em segundo, campeonato por começar, ou seja, absolutamente nada definido. Rubens larga, Michael cai pra terceiro ou quarto e Ralfete tenta desesperadamente passar o brasileiro, que se defende pela esquerda. Ralf vai para a esquerda também porém ele esquece de frear para fazer a curva. Resultado: inevitável strike em Rubens. Michael Schumacher não tem adversários na corrida e ganha com facilidade, assim como o campeonato.

Situação em Hockenheim 2003: Ralfete em segundo, Rubens em terceiro e Raikkonen em quinto. Rubens larga mal e Raikkonen tenta passá-lo pela esquerda, quase pela grama. Rubens evita o toque com Raikkonen deixando um mínimo de espaço de asfalto para ele. Ralf vai para a esquerda, se defendendo de Trulli que atacava pelo meio; Barrichello se aproxima pela esquerda e Ralf fecha Barrichello para tomar a linha da curva. Raikkonen a essa altura está emparelhado à esquerda de Barrichello, este breca mas não tem para onde ir. Ralf toca em Barrichello, que toca em Raikkonen, que por sua vez roda e bate em Ralf e vai para os pneus. Os três, que até então tinham chances "claras" de disputar o título, saem da corrida. Juan Pablo Montoya não tem adversários na corrida e ganha com facilidade. Já o campeonato...

Ralf diz que "não entendeu como o acidente aconteceu". É, não há explicação. Talvez seja marra, birra, burrice, encolhimento cerebral ou algo do tipo. Ralfete é rei em fazer cagadas na largada - Mika Hakkinen agradece a tomada da coroa. Lembro novamente que o rapaz em questão já aprontou até pro irmão em Nurburgring, 1997. Tudo bem que se não ocorresse a batida e avaliarmos a corrida de Montoya e de Michael, Rubens não iria além do terceiro lugar. Essa história de pneu que ele contou não cola. Senão o Sr. Nunca-Fui-Ajudado tinha voado pra cima das Renaults logo de cara.

Pelo menos já enfiaram a jaca em Ralfete pra Hungaroring: vai perder 10 posições no grid. Que é pra largar mão de ser besta. Mas a maior punição para ele foi, sem dúvida, ver Juan Pablo Montoya humilhando a concorrência com um carro pelo menos 1,5 segundo mais rápido por volta do que o resto.

Montoya pilotou isolado na liderança o tempo inteiro. Hat trick ao estilo dos grandes. Entrou na briga pelo título com sobras. Ele bem que já estava merecendo pelo o que tem feito pela categoria em matéria de emoção e disputa. Está faltando mesmo alguns caras com colhões pra desafiar o queixudo e ele é o homem certo a fazer isso. Kimi Raikkonen já mostrou que ainda faz bobagens quando muito pressionado [sombras de Mika Hakkinen? herança nacional?] e talvez ainda não esteja preparado pra ganhar um título. Digo isso com pesar no coração pois torço uma barbaridade pra esse moleque correr o que sabe - e sabe muito - o tempo todo, sem os cinco segundos de pânico que costuma ter. Fernando Alonso parece sofrer do mesmo mal.

Ah, e me vem o colombiano dizer que "ainda não pensa no campeonato". A seis pontos do alemão? Com três pistas favoráveis a frente? Com o rojão que é a FW25 na mão? Então tá, e eu sou o Silvio Santos.

Michael que se cuide com o chumbo. Só ele e Juan Pablo dependem dos próprios resultados para ganhar o título - Raikkonen, o único sobrevivente na briga na "trinca da lambança", teria que ganhar as proximas quatro corridas e torcer para pelo menos um tropeço de Schumacher. O que não é nada difícil dada a maré que o alemão atravessa. Eu acompanhei a carreira inteira do cara e posso dizer sem remorso que nunca vi suas performances tão baixas. Em Nurburgring foi um tapinha na orelha que levou de Montoya, antes de rodar ridicularmente. Na Inglaterra demorou um ano para ultrapassar alguém, enquanto Barrichello tocava o horror na criançada. E hoje, depois de resolver passar Jarno Trulli a umas cinco voltas do final, teve seu pneu estourado e uma decepcionante sétima colocação. Sem falar que antes dessa parada, ele já estava um minuto atrás de Juan Pablo.

Aliás, a Brigdestone colocou fogo no campeonato. Pena [para eles] que o resultado foi o inverso ao que esperavam.

Depois do acidente da largada e salvo quaisquer outros graves contratempos, Barrichello e Ralf são cartas fora do baralho para o título. A Rubens resta o histórico de já ter vencido nos circuitos das próximas três corridas: Hungaroring, Monza e Indianapolis. Isso não é lá grande coisa se considerarmos que, depois dos acontecimentos de hoje, a grama vai ser mais verde do que nunca pro lado do Alemão dentro da equipe. Isso quer dizer menos atenção na hora do pit stop, na hora de acertar o carro, possibilidade de jogo de equipe, etc., vocês sabem bem. Barrichello periga comer o pão que Ross Br... digo, o diabo amassou até o final da temporada sob pena de recisão de contrato se pintar um "vice" de Michael. Talvez tenha sido esta sua última chance de grande corrida no ano. Torço para estar errado. Já Ralf já nem merecia ganhar o salário que tem, quanto mais corridas e título.

Cristiano Da Matta andou o tempo inteiro atrás, porém perto, do companheiro Panis e angariou mais uns pontinhos para a Toyota. Os japas estão evoluindo e a tendência é consolidarem-se como quinta equipe do circo até o final do ano. Não tivesse Panis freado para desviar-se da "trinca da lambança", viraria a primeira curva à frente pelo menos de Schumacher. Coulthard e Webber se embrenharam por ali na largada para ganhar as posições das Toyotas.

E quem é Nicholas Kiesa? Quem é [ou "o que é"] Justin Wilson? Devolvam-me o Tarso Marques e Antonio Pizzonia, faz favor. Kiesa será tão lembrado quanto Anthony Davidson [quem?], Jordan e Sauber correm para cumprir cotas de patrocínio, BAR parece só pontuar às custas da incompetência alheia e a Jaguar merece um lugar no limbo por ser a pior equipe na relação investimento/resultado. Também pudera, é só ver o histórico de presepadas da direção da equipe que logo se nota o porquê do mar de merda em que está imersa. Luciano Burti e caso Pizzonia que o digam. Que vão em paz.

A próxima corrida no kartó... digo, circuito de Hungaroring, Hungria, em outras circunstâncias prometeria ser uma bosta, visto que a pista o é. Mas como possui fatores pró tanto para Williams quanto para Ferrari, a etapa promete ser divertida. Falando a verdade, só vi uma única corrida boa nesse circuito: em 1997, quando Damon Hill e sua inacreditável Arrows/TWR cederam a liderança na última volta para Jaques Villeneuve em uma atitude completamente suspeita [ação anti-Schumacher? não duvido nada]. Se Rubens estiver inspirado de novo, Michael vier mordido e Montoya se estabilizar na ponta, vai dar uma bela duma briga. Esperemos, pois.

Tuesday, July 29, 2003

silverstone 2003 - opinião do edgard mello filho

E Rubens (agora em sua nova fase, “não estou nem aí”)? O que fará Rubens na Inglaterra? Será que vai ganhar? (todos em coro).

Você respondeu o quê? Se respondeu não e gosta muito de Rubens, não se sinta culpado, a Ferrari também responderia a mesma coisa, ainda que para seguir o cronograma lógico da equipe (na cabeça deles). Porém, se respondeu sim, o amigo esta perdendo tempo e dinheiro. Deveria freqüentar mais loterias, montar parcerias com anões do orçamento no norte do país, ou colocar um turbante na cabeça e armar uma barraca na esquina da São João com a Av. Ipiranga no centro de Sampa. Afinal já aparece uma ponta de preocupação na nossa cabeça. "Como será o Brasil de Enéas"?

"Flavinho, manda internar de novo o Edgard, só que agora no Pinel".

O pedido teria sido o mesmo, se eu, vinte anos atrás, tivesse dito a mesma coisa do atual presidente.

"Mas, Edgard, a vitória de Rubens foi ou não uma surpresa?".

"Sim e não" (resposta do tipo Muralha da China).

Explico (é melhor do que começar com veja bem): Altamiro Suassuna (Mirinho), altíssimo executivo de praia, com olhar distante e perdido, entre as ondas e a bundinha das garotinhas do Arpoador, diria entre suspiros: "Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, e digo mais, uma melancia ainda é uma melancia" (pausa para profunda reflexão...).

Surpresa? Pela performance das últimas quatro corridas? Sim.

Pelo que Rubens é capaz? Não.

Pela cara do nosso pequeno Bonaparte? Sim.

Pela rasteira que tomou no "pacotão" de maio, ficando fora da turma? Não.

Pela cara do alemão? Sim.

Pelo fato de só ter sido ultrapassado nos boxes? Não.

Pelo que se esperava das Williams? Sim.

Pelo fato de ultrapassar todos na pista? Não.

Pela performance dos Bridgestone com altas temperaturas de piso? Sim.

Pelo fato de pressionar e induzir o alemão ao erro na classificação? Não.

Pelo que aconteceu em Interlagos com a historia do consumo e da pane seca? Sim.

Pelo fato de ter feito uma corrida agressiva, veloz, e com uma regularidade impressionante? Não.

Pelos riscos de uma pane hidráulica no sistema? Sim.

Por simplesmente passar sem vacilar? Não.

Pelo fato do time deixar Miguel esperando o abastecimento, pondo fogo pelas orelhas e pelo escapamento? Sim.

Por ter sentido alegria e raiva no pódio? Não.

Pelo fato da equipe ter atendido Rubens nos "pits" sem os tradicionais problemas espirituais? Sim.

Pelo fato de Bernie "Cannonball" Ecclestone ter chamado Rubens de mercenário? Não.

Pelo fato de não ter chovido este ano em Silverstone? Sim

Pelo fato de Miguel ter dito aos jornalistas que Rubens nunca o ajudou? Não.

Pelo fato da equipe ficar confusa entre ele e o alemão no primeiro pit? Sim.

Pelo fato do Jr. tomar um drible da vaca de cair a chupeta? Não.

Como você vê, teríamos mil razões para ficar um tempão neste pingue-pongue de sim e não, daí a profundidade da frase do fiscal de praia, onde "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa". E como uma coisa chama a outra, cito outro grande pensador, Gabriel, com uma de suas frases, que bem define o comportamento de Rubens com relação à equipe na Inglaterra. "Eu tô vazando"...

Um bom momento para refazer um pedido: não critique Rubens pelo tipo de contrato que ele assinou com a Ferrari. Era o que ele tinha na mão e você, você mesmo, teria feito a mesma coisa, teria assinado também. Mesmo tendo papai, titio, padrinho e o vizinho advogado como procuradores. Ninguém em sã consciência joga uma Ferrari pela janela. Falar é fácil, fazer é outra história, ninguém chuta a sorte duas vezes. Só se for burro. Você que é inquilino, experimente não cumprir seu contrato simples do aluguel, tome uma execução, e você vai descobrir que não compra mais nem camisinha a prazo. O contrato era e é de ferro, e Rubens cumpriu a risca cada item (em que pese à mentira deslavada e descarada do pentacampeão em questionar a ajuda de Rubens, até porque se fosse verdade, ele teria sido multado e já estaria fora da equipe mesmo, com pelo menos três vitórias a mais, sem contar o que a gente não ficou sabendo). Eu, sim, confesso a vocês, que fiquei surpreso com a atitude da equipe, estava esperando a qualquer momento uma daquelas novidades do time. Por incrível que pareça mesmo com Rubens em primeiro, eles chegaram a vacilar na hora do atendimento. Nem porca, nem mangueira de abastecimento, nem mecânico distraído, nem roda travada e nem Miguel. Foi dia de Rubens. O tamanho da tromba do alto comando no muro, era cômico, o sorriso meio amarelo na hora da taça era visível. Contagiante mesmo foi à alegria dos mecânicos de Rubens. Estes sendo do segundo time também conhecem um pouco o tamanho da encrenca.

"Ô, Edgard, Ross Brown elogiou o comportamento de Rubens dizendo que ele andou muito forte no final de semana". Será que ele viu alguma coisa que nos não vimos? É bom lembrar também que, indiretamente, Rubens ajudou de novo seu companheiro (sic), tirando pontos importantes de Juan e principalmente de Kimi. Tivesse Juan tido um problema e Kimi idem, nas vinte voltas finais, o que você acha que o time faria? Que mais uma vez teríamos outra demonstração de força do alto comando diretivo? No fundo, Juan e Kimi acabaram ficando como escudeiros de Rubens. Mas a FIA não proibiu o jogo de equipe? Gente, brincadeira tem hora. Vocês acham mesmo que a Ferrari perderia esta chance? Com este campeonato apertado? Com os caras na orelha do Miguel? De repente, faltando quinze voltas para acabar o GP, Rubens em primeiro e Miguel, dez segundos atrás, os caras iriam ficar de braços cruzados e deixar assim até o final? Conta outra, vai.

Se ele estiver mesmo "vazando" da equipe, acho interessante o conselho, em rápida reunião, convocar Rubens para acertos e detalhes finais, como eu vejo fantasma, não custa comentar, fiquei com impressão, por tudo que vi em Silverstone, que a operação "MV" (Merda no Ventilador) já foi deflagrada.

Com a Williams em alta, o cometa de Deus pentelhando aqui e ali, que pelo visto vai de sarcófago auto-degradável até o final, a Renault correndo por fora e Rubens vazando, sei não, este final de campeonato será engraçado.

Quem me garante que o cara não chegou ao limite da paciência?

Quem me garante que o cara não cansou de ser bonzinho?

Quem me garante que o cara não achou umas brechas no contrato ferrolho?

Quem me garante que não acabou mesmo a fase do "vamos brincar de pegador, vou me divertir muito"?

Um piloto do calibre de Rubens, não faz quatro corridas discretas porque esta com lêndea ou frieira no pé.

Com a grande pressão em cima do Miguel, e as outras abelhas em volta, com o ferrão armado (menos o Jr., é claro, a menos que ele largue na frente), o conselho diretivo de Maranello não poderá deixar de dar bons equipamentos para Rubens (em sua nova fase, “não estou nem aí”), sob pena dele não poder ajudar o alemão a se defender dos ataques de várias frentes, como, aliás, fez de novo em Silverstone, isso se considerarmos que... pode parar, pára tudo, pode mudar de assunto, desculpe a minha falha, esqueci que Rubens não ajuda Miguel. Que coisa incrível, não?, por que será que a Ferrari não pôs isso no contrato? Pobre Miguel, fase decisiva do campeonato, e ele sozinho, abandonado à sua própria sorte, como um valente mouro, cercado por cometas, abutres e desligados, além dos crocodilos de plantão. Em tempo, ia me esquecendo, touros loucos também e lagartixas invasoras de pista. Realmente será dura, a vida deste rapaz. Depois reclamam que Bernie "Cannonball" Ecclestone, mete a boca no trombone.

Paul Stoddart (fiquei fã de carteirinha) poderia aproveitar, e contratar por fora alguma lagartixa para invadir a pista nas próximas provas, com a camiseta da Minardi. Sem dúvida novas emoções na corrida, grandes possibilidades de novas vitórias de Rubens (já observaram a tendência de vencer GP que o nosso tem quando as lagartixas invadem?). Sem contar os inestimáveis serviços que prestaria a ATSO (Associação dos Telespectadores Sem Opção), ficando o momento do abastecimento, delimitado pela volta da invasão da lagartixa (invadiu, safety-car, pit-stop, enquanto se recolhe o invasor aos costumes), pondo, assim, um final nos intermináveis e lotéricos, cálculos de consumo, que tanto infernizam a vida de Dona Izildinha, "temente a Deus", mãe de Anabel e Luzia, beata fortíssima, devota da Santa do mesmo nome, torcedora fervorosa de Rubens, que vai à missa das seis aos domingos de corrida, só para não perder a largada.

Os torcedores do alemão dirão com suas razões: "Mas vai ser campeão do mesmo jeito este ano", e novamente eu invoco o fiscal de praia: "Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa"...

Para não perder a viagem, aproveito este momento para a gloriosa frase de segurança máxima contra encheção de saco: não estou dizendo que Rubens é melhor do Miguel, não tenho nada contra o cara, isso não quer dizer que eu não respeite alguns títulos (isso mesmo, alguns) e conquistas do cidadão, apenas não gosto dele. Posso? "Mas ele foi eleito embaixador da República de San Marino e tem várias comendas", diriam os mais radicais, completando: "Isso não vale nada?".

"Meu querido, por gentileza, chega mais, caiu aqui um botão da braguilha, se o campeão do mundo fosse o Verstappen, o embaixador seria ele, Jos ‘The Boss’. A diferença é que ele iria sair na foto coçando o saco".

Como? Ficou surpreso com a declaração de Miguel? Não esperava? Mas como assim, "quando ajudou"? Foi revoltante a candura do olhar para a câmera, questionando o seu momento amnésico? Então Rubens vem durante todo este tempo, engolindo sapos à milanesa a troco de nada? Mas não deu um troféu em agradecimento a toda ajuda que recebeu? Não cansou de copiar a receita do bolo? Freud explica? O outro não teve que ouvir cobras e lagartos pelo rádio, além da historinha de que a felicidade até existe e etc.? E agora é que avisam que é cada um por si?

Amigão, ficou surpreso porque quis. Não foi a primeira, não será a última.

Pela primeira vez, peço licença e desculpa, para usar uma frase que nunca gostei ou usei: eu avisei.

Cristiano, parabéns, bela amostragem sem dúvida, apesar da equipe. Tudo indica que vêm aí bons ventos, pelo menos preparado para eles, você mostrou que está, que o diga Kimi. Belo trem de puxar fila de GP. Não acredite nesta história de que Juan estava manco, tio David estava com um carro tanque, que Miguel estava morto e etc. Eu mesmo ouvi algumas vezes, "lá vem o Schumi", claro que eu não o vi, mas juro que ouvi. Por falar nisso, teve uma briga muito bonita, histórica mesmo, só que até agora não sei quem era contra quem. Se o Alemão contra Fernando, que, aliás o Espanholito já tinha tomado com a porta do convento na cara, logo após a largada, quando ia passar o Alemão antes da primeira curva. Ou se era Rubens contra Trulli.

Antonio, missão cumprida, não foi das melhores, eu sei, mas foi melhor assim. Pelo menos acabou a choradeira, a reclamação e as intermináveis desculpas. Confesso que algumas vezes até mentalizava para o João Pedro não te encontrar, não por nada, apenas para evitar o óbvio, como você por contrato não poderia falar que o seu engenheiro era um anu, o equipamento, bem sem-vergonha, e a equipe, a parte traseira da sucuri, iríamos cair no muro das lamentações de sempre. Realmente estava um saco. Aproveite, vá até Santiago de Compostela pela graça alcançada, e ao fato de ter saído com vida daquele caldeirão. Você é jovem e a meta ainda pode ser a F-1 na sua vida, sem dúvida, mas não espere muito tempo. Ou equipe boa, se tio Frank abrir para trabalhar com Gené, com certeza será uma boa para manter a forma, e lá você estará entre amigos. Caso contrário, vá ganhar dinheiro nos Estados Unidos. Você tem uma noiva maravilhosa, uma grande campeã, que vai precisar muito do seu apoio nos próximos jogos. Estamos todos torcendo por uma medalha de ouro para ela, no Pan-americano de Santo Domingo.

Para o Canguru ter dado graças a Deus pela sua saída (honesto da parte dele, afinal a gente sempre sabe da onde vem o chumbo), imagino que de graça não foi, da mesma forma que fico imaginando alguém como Jackie Stewart, se lamentar tanto, pela perda de um piloto da sua categoria. De graça, também não deve ter sido. Toca a vida. Logo pinta coisa nova. Acredite, os caras estavam te desmoralizando. Melhor deste jeito. Nada na vida acontece por acaso.

Voltando a Rubens, não, não vou comemorar, afinal sempre defendi esse tipo de comportamento dele, sempre achei ele capaz de fazer este tipo de coisa, e, olha, não foi a primeira vez, apenas na Inglaterra deu certo. Quem acompanha ao longo do tempo a coluna, sabe disto. Fiquei sim, muito contente pela hora em que veio esta vitória, talvez ela possa determinar um novo comportamento, uma nova fase, ou então não mudar nada, e tudo voltar como antes na terra de Miguel, próximo GP talvez, quem sabe...

Aconteça o que acontecer, foi uma vitória de encher os olhos, como aquelas que estávamos habituados a ver aos domingos de manhã com aquele carro vermelho e branco.

Se alguém foi à pista para ver Arnold e Miguel, viu o Exterminador de Silverstone até o talo.

Engraçado, você sabe que além da risada do Mutley que eu ouvia na hora da corrida, tinha mais uma no fundo, não deu para identificar direito, mas por um momento achei que... não, não foi nada, foi só impressão.

Muito bem, como não sou supersticioso, e não acredito em Bruxas (por isso casei com a Phoebe), vou terminar a coluna do mesmo jeito que encerrei a outra, vai que numa destas...

E Rubens (agora em sua nova fase, “não estou nem aí”)? O que fará Rubens na Alemanha?

Será que vai ganhar? (todos em coro).

[Texto emprestado compulsoriamente do site www.grandepremio.com.br]

Thursday, June 05, 2003

Texto compulsoriamente emprestado do site Grande Prêmio

monaco 2003 - opinião do Edgard

Até Mônaco (sic). Não foi assim que me despedi de vocês na última coluna? Pois é, e agora, vou escrever o quê? Lembro-me que no GP da Espanha, quando nos foi dito que Mônaco (sic) era ou seria a nossa grande esperança, e que Rubens andava muito bem lá e etc. e tal.

Perguntei ao Mestre Chow Ling, meu professor de Tai Chi Chuan. "Este Mônaco (sic) seria aquele de ruas estreitinhas e safadas, com paredão na cara dos pilotos, aquele que tem mais gente nos boxes do que na arquibancada, formando a maior concentração de Rolex por metro quadrado do planeta, onde ninguém passa ninguém?" Lembro-me que o Mestre respondeu, “Sim gafanhoto, mas não te esqueças de que estão fazendo muitas modificações na pista”. (sic)

Seria então o caso de perguntar agora, “Mas, Mestre, mexeram, mudaram, trocaram, alteraram, modificaram e continua tudo igualzinho, não mudou borra nenhuma, vinte milhões de dólares gastos e continua tudo a lesma lerda de sempre, ou será, Mestre, que também existe superfaturamento no Principado?”. Sábio, experiente, superconcentrado com o olhar num belíssimo iate, onde uma gostosa tomava sol de topless, ele me responderia: “Gafanhoto, não força, existem razões que a própria razão desconhece, fica na sua”.

Como bom brasileiro, louco para ter alguém para torcer, ainda esperançoso, mesmo com a paciência já na reserva, mandei: “Honorável, uma dica para o seu humilde discípulo esperar Mônaco feliz, aqui entre nós, alguma chance de Rubens classificar na frente de Miguel em Mônaco (sic) no sábado?” Ele severo, sisudo e fechando a cara, detonou: “Nem por um... Piiiiiiiiiiiiiiiiiii”. – Intervenção eletrônica para frases de baixo calão. “Ficou louco, velho, sua desorientação espacial está te levando a delírios”. "Não é isso, Mestre (com frouxos de sorriso nos lábios), não precisa apelar, apenas antecipei meu sonho e vi Rubens na pole, com aquela risadinha do Mutley, e Miguel em quarto no grid de Monte Carlo. Já pensou, Rubens poderia até ganhar".

Afinal, não errei tanto assim no meu sonho, o alemão ficou em quinto no grid e Rubens ganhou... ou o motor da Sauber, ou o direito de trocar de lugar com Antonio. Ainda mais depois da manchete da "Gazzetta" de segunda feira, “Ferrari já tem seus pilotos para 2005”. Já estou até ouvindo os alto-falantes: ADEG informa: substituição na frigideira, sai Antonio (se continuar assim vai mesmo) e entra Rubens.

Eu só posso acreditar que a coisa devia estar muito ruim ali atrás do David. Se sábado a culpa foi do peso do combustível (com a palavra o alto comando estratégico, ou alguém achou que Kimi, Juan & cia. fossem classificar com combustível até a boca?), no domingo a culpa foi de quem, dos pneus? Na fila indiana a que assisti, o alemão vira e mexe apertava os dois da frente, chegava ou diminuía a diferença para os caras, então o pneu não era tão ruim assim, tanto que o japa da Bridgestone chiou, e com razão, se o nosso bicudo e pequeno Napoleão Todt disse para não se subestimar Kimi, eu completo com a seguinte lembrança, não subestime o pessoal da Bridgestone, se tem uma coisa que eles sabem fazer é pneu. Tanto pegou mal, que o alemão rapidinho mudou o discurso, para “Veja bem, o alinhamento de Plutão com Marte na segunda casa de Netuno, em função da segmentação dos anéis de Saturno, obrigou uma dispersão ergonômica do fluxograma perimetral estacionário, criando um desbalanceamento na estrutura de apoio axial do carro” (sic). As más línguas dizem que Montezemolo estaria viajando urgente para o Japão, a fim de aparar as arestas das desculpas meia boca que foram dadas. Muito bem, e Rubens, a culpa foi de quem?

Vamos dar uma espiada nos tempos de quinta, sábado e domingo.

Schumi
quinta: 19s7, 37s9, 18s5 = 1min16s305
sábado: 19s6, 37s6, 18s3 = 1min15s644

Rubens
quinta: 19s7, 38s0, 18s7 = 1min16s636
sábado: 19s8, 37s4, 18s5 = 1min15s820

Diferença: quinta: 0s331, sábado: 0s176


Domingo.
Vamos pegar as melhores passagens dos dois, não tenho os trechos:

Sapateiro
Na 30ª volta: 1min14s707

Rubens
Na 59ª volta: 1min15s307.

Diferença: 0s600 - o que em Mônaco (sic) representa um caminhão da Graneiro (olha o jabá).


Os números de cima nos remetem as seguintes alternativas para o domingo:

a) Colocaram o motor da Sauber para não ter que repetir a história do combustível?
b) Rubens ficou encaixotado porque estava atrás do David ou ficou atrás do David porque estava encaixotado?
c) Ficou de saco cheio porque finalmente caiu a ficha, ou finalmente caiu a ficha porque ficou de saco cheio?
d) Graças a Deus que Button ficou no estaleiro, senão era nono.
e) Nenhuma das alternativas acima

Vamos às respostas:

a) Claro que não dá, mas está na hora de parar com desculpas esfarrapadas.
b) Já vi Rubens fazer corridas melhores de Stewart ou Jordan.
c) Está mais do que na hora de cair a ficha, a paciência está acabando, a minha pelo menos.
d) E você ainda tem alguma dúvida?
e) Tem que ter uma explicação para aquele oitavo lugar.

Sempre tentei mostrar aqui que Rubens era um piloto em média de dois a no máximo três décimos mais lento que o Miguel, quem lê a minha coluna há tempos sabe disto. Ou seja, o companheiro mais rápido que o alemão já teve, entre todos os teamates. Tá bom, eu já sei, é complicado passar, é estreito, é difícil, tudo bem, mas alguma coisa aconteceu a mais no domingo. Ainda não entendi.

Que Kimi no final tivesse se conformado e aceitado o segundo lugar é sinal de maturidade dele, sem dúvida, isso lhe deu mais um pouquinho de gás na liderança do campeonato, além de evitar um enrosco desnecessário com Juan, que poderia perfeitamente jogar a vitória no colo do alemão. Agora lá trás, oitavo e tudo bem? Sei não, acho que íamos ficar mais satisfeitos se tivesse tentado passar David, Jarno & cia. Mesmo batendo. Por oito, por oitenta. Como sempre, falar do sofá é bem mais fácil.

Posso e devo estar enganado, para mim a única deixa é a seguinte: realmente existem fortes indícios de que esta acabando o tesão e o casamento está na fase final. Como o alemão ainda não passou o Kimi, isso torna as coisas mais difíceis para Rubens no Canadá, outra pista em que ele se dá bem. (Aliás, lá também já tomou um “fica aí”.) Quer dizer, outra corridinha sem sal?

Tá bem, concordo, é uma grande equipe, muita grana, etc. Mas será que não está na hora de pintar as bolas de roxo e bater o cajado na mesa?

No fundo, eu tinha medo disso, com os carros dos outros times melhorando e encostando na Ferrari, ou pelo menos dando mais trabalho, a tendência seria complicar mais para Rubens, caso isso afetasse a tranqüilidade do alemão, e pelo andar da carruagem... Bom como é muito fácil falar, prefiro ficar com minhas conjecturas e vamos em frente.

Antonio, mas nem em Mônaco? (sic) Desse jeito é melhor mesmo arrumar a mala. Este conjunto de fatores tá acabando com o rapaz. O canguru atômico é rápido, os caras estão dando um carrinho meia-boca, com a auto estima no dedão do pé, alem de o pão estar caindo toda hora com a manteiga para baixo (parece o Jarno), sei não, já vi esse filme, claro que numa versão mais antiga com Lucile Ball e Little Richard (substituindo Desi Arnaz).

Quanto a Cristiano, deve ter sentido saudade da guitarra, ou então foi buscar as fotos para ver se a Toyota deixou ele sair nelas.

O alemão fez o que pôde, para ele o feijão com arroz, as declarações de que teve algumas dificuldades de equilibrar o carro principalmente no segundo e terceiro trecho de Mônaco (sic) dão força a alguns comentários que ouvi de que a F2003-GA não é tudo isso que a Ferrari falou. O segundo a mais em média que eles levaram para abastecer em Monte Carlo em relação aos inimigos já indica que o motor bebeu bem mais que os outros, justificando o peso a mais na classificação de sábado, isso para atender a tática definida pela equipe.

Resultado: alemão se virando, motor bebendo, estrategistas confusos e Rubens apático = Trolha Monegasca

Tenho a impressão que não era bem isso que a equipe esperava, principalmente depois da pré de quinta. Com o nabo de sábado, o presidente Montezemolo já deve ter pensado em cancelar a viagem para o Principado. Depois da largada no domingo, com certeza dispensou a tripulação.

De qualquer forma ainda não há motivos para pânico, vem ai uma seqüência de pistas (agora sim) que devem favorecer um pouco mais a F2003-GA e com certeza o alemão vem na jogada. Só espero de coração, e com muita torcida, que a McLaren dê um meteoro bem rápido para o Cometa guiar, e que efetivamente a Williams tenha encontrado o caminho, se bem que Mônaco não serve como referência, enfim, pelo menos com isso, a segunda parte do campeonato deverá ser um pouco mais interessante, por que para mim a categoria voltou para o quartel do General Abrantes.

Mas Edgard, Mônaco (sic) não teve nada interessante? Além de ver mesmo de longe a princesa Caroline, na cerimônia do pódio, claro que teve.

“Viva Juan!”

Abração a todos e com licença que agora eu vou voar.

Edgard Mello Filho é uma das autoridades em F-1 mais respeitadas por este blog. Atualmente escreve para o site Grande Premio e apresenta um programa sobre aviação na TVA, canal 17.

***
Sobre o acidente do Jenson Button: eu GELEI na hora em que vi a BAR bater de lado nos pneus do mesmo jeito que Karl Wedlinger em 1994 - e que causou o fim da carreira do austríaco na Formula 1. Depois dessa e das batidas de Webber e Alonso no Brasil, acho que nunca mais ninguém morre na categoria. E se ele não bate, ia ficar entre os 5 primeiros no grid e podia até arriscar um pódio. Enquanto isso, o Villeneuve...

Monday, May 19, 2003

zeltweg 2003 - opinião do BOI
Eu sei que agora o certo é chamar de Spielberg, mas foda-se.

A número sessenta e sete. E a sequência não vai parar tão cedo. Michael Schumacher ensina aos céticos a difença entre bons pilotos e os pilotos que são realmente foda. Os realmente foda têm sangue frio. Imagine que você esteja reabastecendo seu carro e que de repente comece a pegar fogo no bocal do tanque. Qual é a sua primeira reação? Correr para onde o nariz estiver apontado, certo? O alemão não fez isso. Esperou que apagassem o fogo, engatou a primeira e foi pra luta como se nada tivesse acontecido. Senhoras e senhores, é ESSE o maldito diferencial do Pia Barroca pro resto, o sangue frio, o cérebro. O staff extra-pista é um detalhe.

As chances de vitória de qualquer outro piloto acabaram na péssima largada de Raikkonen - que, se tinha alguma pretensão em vencer a corrida, deveria ter pulado na frente do alemão e acabou tendo sorte de não ter sido ultrapassado por Barrichello, o quinto no grid. Schumacher pouco se lixou para a pressão de Montoya após a saída do safety car e teve pista limpa para abrir vantagem do resto do grid.

Então Rubens Barrichello ficou atrás de Raikkonen durante 22 voltas, antes do primeiro pit, com um carro bem mais rápido. E no fim da corrida veio tirando 1 segundo por volta, encostou, ficou seis voltas furunfando mas não conseguiu passar. "Mas BOI, você não disse que o cara era um dos melhores 'ultrapassadores' da F-1?" Sim, eu disse. Mas lá no carro do Raikkonen tem um negocinho chamado de motor Mercedes, que tem uma curva de potência fudida. Nosso amigo finlandês tem um carro com uma retomada que não é brincadeira, isso é fato. "Ah, mas o Schumacher passou". Sim, ele passou. Passou de pneu novo [e MOLE] e carro mais leve - ele parou bem antes do resto na segunda parada devido aos acontecimentos de seu primeiro pit.

Ah, e que pit stop. A Intertechnique, que recebe semanalmente cartas com reclamações da Williams, deve estar com as orelhas fritando.

Primeiro aporta Barrichello com a vermelhinha nº2 no pit. Engata a bagaça e não sai uma gota de combustível. Vai lá, corre pra bomba reserva e põe a gasolina. Perde-se 19 segundos. Depois entra Schumacher. Atraca. Pneus. Engata a mangueira. Então uma pequena labareda diz "Oi!" para o nosso frentista de luxo. Correria e pânico geral. Mecânicos correndo para todos os lados. Extintores de incêndio surgem de todas as partes e Schumacher lá dentro do carro pensando "Apaga logo essa porra que o colombiano vem vindo". O alemão engata a primeira e sai em terceiro, à caça de Montoya e Raikkonen.

Pô, o cara FICOU DENTRO DO CARRO. A porra virou um molotov gigante de um milhão de dólares e ele lá, calmo, só esperando a hora pra sair. Vai ter sangue de barata assim lá na puta que pariu.

Vale dizer que ambos os seguintes pits da Ferrari foram horríveis, 12 segundos pra cada um.

Kimi Raikkonen chegou em segundo e viu sua liderança na tabela reduzida a dois míseros pontinhos - ou seja, nada. E, Ron Dennis, você vai esperar o Schumacher abrir 20 pontos do Raikkonen pra estrear o carro novo? Ou você têm dúvida que o alemão vai levar as próximas duas? Mônaco e Montreal são a cara dele. E teu segundo piloto, peso-mortíssimo, quando fala que vai disputar o título, consegue, no máximo, ser o quinto ou o quarto da tabela. E ele tem admitido que está numa fase ruim. Ai.

Ron, conselho de amigo: aposenta o escocês e contrata alguém que preste. Quer uma dica? Giancarlo Fisichella. Tem cara de segundo piloto e corre que é uma beleza.

***
E como a transmissão dessa corrida foi uma merda - tanto por parte da geração da TV austríaca como da narração global - ficou totalmente nebuloso o que aconteceu com Antonio Pizzonia. O cara vai pro pit em sexto. Volta em 15º. Todo mundo faz o pit e ele CONTINUA em 15º. Termina em 9º. Porra! E ninguém explica, ninguém fala nada... O companheiro dele largou dos boxes, tomou stop and go e chegou em 7º. MUITO estranho.

***
Lembram das Forti Corse, as famosas "tartarugas amarelas" do meio da década de 90? Parece que encontraram substitutas à altura, pois as Jordans tomaram de todo mundo na corrida, menos das Minardis. Repararam nos trenzinhos que se formavam atrás de Ralph Firman e Fisichella?

***
Esse talvez seja o campeonato mais equilibrados dos últimos anos entre as equipes médias. Excetuando-se as três grandes, Jordan e Minardi, o resto tá correndo junto. Jenson Button em 4º não foi surpresa pra mim. E Villeneuve, apesar da boca grande, merecia uns pontos também.

***
Rubens parece que não se entendeu tão bem com a F2003-GA do que com o modelo anterior da Scuderia, daí pode-se explicar alguma coisa da sua queda de desempenho nas duas últimas corridas. Lembram-se também de que ele quase não pegou pra testar o modelo novo? Pois é.

***
E eu sei que a qualidade do texto tá caindo, prometo coisas melhores pra Mônaco. Quem sabe o glamour do principado me inspire a escrever melhor. Até.

Ah sim, meu voto em Mônaco vai para Fernando Alonso. Não me perguntem porquê.