silverstone 2003 - opinião do edgard mello filho
E Rubens (agora em sua nova fase, “não estou nem aí”)? O que fará Rubens na Inglaterra? Será que vai ganhar? (todos em coro).
Você respondeu o quê? Se respondeu não e gosta muito de Rubens, não se sinta culpado, a Ferrari também responderia a mesma coisa, ainda que para seguir o cronograma lógico da equipe (na cabeça deles). Porém, se respondeu sim, o amigo esta perdendo tempo e dinheiro. Deveria freqüentar mais loterias, montar parcerias com anões do orçamento no norte do país, ou colocar um turbante na cabeça e armar uma barraca na esquina da São João com a Av. Ipiranga no centro de Sampa. Afinal já aparece uma ponta de preocupação na nossa cabeça. "Como será o Brasil de Enéas"?
"Flavinho, manda internar de novo o Edgard, só que agora no Pinel".
O pedido teria sido o mesmo, se eu, vinte anos atrás, tivesse dito a mesma coisa do atual presidente.
"Mas, Edgard, a vitória de Rubens foi ou não uma surpresa?".
"Sim e não" (resposta do tipo Muralha da China).
Explico (é melhor do que começar com veja bem): Altamiro Suassuna (Mirinho), altíssimo executivo de praia, com olhar distante e perdido, entre as ondas e a bundinha das garotinhas do Arpoador, diria entre suspiros: "Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, e digo mais, uma melancia ainda é uma melancia" (pausa para profunda reflexão...).
Surpresa? Pela performance das últimas quatro corridas? Sim.
Pelo que Rubens é capaz? Não.
Pela cara do nosso pequeno Bonaparte? Sim.
Pela rasteira que tomou no "pacotão" de maio, ficando fora da turma? Não.
Pela cara do alemão? Sim.
Pelo fato de só ter sido ultrapassado nos boxes? Não.
Pelo que se esperava das Williams? Sim.
Pelo fato de ultrapassar todos na pista? Não.
Pela performance dos Bridgestone com altas temperaturas de piso? Sim.
Pelo fato de pressionar e induzir o alemão ao erro na classificação? Não.
Pelo que aconteceu em Interlagos com a historia do consumo e da pane seca? Sim.
Pelo fato de ter feito uma corrida agressiva, veloz, e com uma regularidade impressionante? Não.
Pelos riscos de uma pane hidráulica no sistema? Sim.
Por simplesmente passar sem vacilar? Não.
Pelo fato do time deixar Miguel esperando o abastecimento, pondo fogo pelas orelhas e pelo escapamento? Sim.
Por ter sentido alegria e raiva no pódio? Não.
Pelo fato da equipe ter atendido Rubens nos "pits" sem os tradicionais problemas espirituais? Sim.
Pelo fato de Bernie "Cannonball" Ecclestone ter chamado Rubens de mercenário? Não.
Pelo fato de não ter chovido este ano em Silverstone? Sim
Pelo fato de Miguel ter dito aos jornalistas que Rubens nunca o ajudou? Não.
Pelo fato da equipe ficar confusa entre ele e o alemão no primeiro pit? Sim.
Pelo fato do Jr. tomar um drible da vaca de cair a chupeta? Não.
Como você vê, teríamos mil razões para ficar um tempão neste pingue-pongue de sim e não, daí a profundidade da frase do fiscal de praia, onde "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa". E como uma coisa chama a outra, cito outro grande pensador, Gabriel, com uma de suas frases, que bem define o comportamento de Rubens com relação à equipe na Inglaterra. "Eu tô vazando"...
Um bom momento para refazer um pedido: não critique Rubens pelo tipo de contrato que ele assinou com a Ferrari. Era o que ele tinha na mão e você, você mesmo, teria feito a mesma coisa, teria assinado também. Mesmo tendo papai, titio, padrinho e o vizinho advogado como procuradores. Ninguém em sã consciência joga uma Ferrari pela janela. Falar é fácil, fazer é outra história, ninguém chuta a sorte duas vezes. Só se for burro. Você que é inquilino, experimente não cumprir seu contrato simples do aluguel, tome uma execução, e você vai descobrir que não compra mais nem camisinha a prazo. O contrato era e é de ferro, e Rubens cumpriu a risca cada item (em que pese à mentira deslavada e descarada do pentacampeão em questionar a ajuda de Rubens, até porque se fosse verdade, ele teria sido multado e já estaria fora da equipe mesmo, com pelo menos três vitórias a mais, sem contar o que a gente não ficou sabendo). Eu, sim, confesso a vocês, que fiquei surpreso com a atitude da equipe, estava esperando a qualquer momento uma daquelas novidades do time. Por incrível que pareça mesmo com Rubens em primeiro, eles chegaram a vacilar na hora do atendimento. Nem porca, nem mangueira de abastecimento, nem mecânico distraído, nem roda travada e nem Miguel. Foi dia de Rubens. O tamanho da tromba do alto comando no muro, era cômico, o sorriso meio amarelo na hora da taça era visível. Contagiante mesmo foi à alegria dos mecânicos de Rubens. Estes sendo do segundo time também conhecem um pouco o tamanho da encrenca.
"Ô, Edgard, Ross Brown elogiou o comportamento de Rubens dizendo que ele andou muito forte no final de semana". Será que ele viu alguma coisa que nos não vimos? É bom lembrar também que, indiretamente, Rubens ajudou de novo seu companheiro (sic), tirando pontos importantes de Juan e principalmente de Kimi. Tivesse Juan tido um problema e Kimi idem, nas vinte voltas finais, o que você acha que o time faria? Que mais uma vez teríamos outra demonstração de força do alto comando diretivo? No fundo, Juan e Kimi acabaram ficando como escudeiros de Rubens. Mas a FIA não proibiu o jogo de equipe? Gente, brincadeira tem hora. Vocês acham mesmo que a Ferrari perderia esta chance? Com este campeonato apertado? Com os caras na orelha do Miguel? De repente, faltando quinze voltas para acabar o GP, Rubens em primeiro e Miguel, dez segundos atrás, os caras iriam ficar de braços cruzados e deixar assim até o final? Conta outra, vai.
Se ele estiver mesmo "vazando" da equipe, acho interessante o conselho, em rápida reunião, convocar Rubens para acertos e detalhes finais, como eu vejo fantasma, não custa comentar, fiquei com impressão, por tudo que vi em Silverstone, que a operação "MV" (Merda no Ventilador) já foi deflagrada.
Com a Williams em alta, o cometa de Deus pentelhando aqui e ali, que pelo visto vai de sarcófago auto-degradável até o final, a Renault correndo por fora e Rubens vazando, sei não, este final de campeonato será engraçado.
Quem me garante que o cara não chegou ao limite da paciência?
Quem me garante que o cara não cansou de ser bonzinho?
Quem me garante que o cara não achou umas brechas no contrato ferrolho?
Quem me garante que não acabou mesmo a fase do "vamos brincar de pegador, vou me divertir muito"?
Um piloto do calibre de Rubens, não faz quatro corridas discretas porque esta com lêndea ou frieira no pé.
Com a grande pressão em cima do Miguel, e as outras abelhas em volta, com o ferrão armado (menos o Jr., é claro, a menos que ele largue na frente), o conselho diretivo de Maranello não poderá deixar de dar bons equipamentos para Rubens (em sua nova fase, “não estou nem aí”), sob pena dele não poder ajudar o alemão a se defender dos ataques de várias frentes, como, aliás, fez de novo em Silverstone, isso se considerarmos que... pode parar, pára tudo, pode mudar de assunto, desculpe a minha falha, esqueci que Rubens não ajuda Miguel. Que coisa incrível, não?, por que será que a Ferrari não pôs isso no contrato? Pobre Miguel, fase decisiva do campeonato, e ele sozinho, abandonado à sua própria sorte, como um valente mouro, cercado por cometas, abutres e desligados, além dos crocodilos de plantão. Em tempo, ia me esquecendo, touros loucos também e lagartixas invasoras de pista. Realmente será dura, a vida deste rapaz. Depois reclamam que Bernie "Cannonball" Ecclestone, mete a boca no trombone.
Paul Stoddart (fiquei fã de carteirinha) poderia aproveitar, e contratar por fora alguma lagartixa para invadir a pista nas próximas provas, com a camiseta da Minardi. Sem dúvida novas emoções na corrida, grandes possibilidades de novas vitórias de Rubens (já observaram a tendência de vencer GP que o nosso tem quando as lagartixas invadem?). Sem contar os inestimáveis serviços que prestaria a ATSO (Associação dos Telespectadores Sem Opção), ficando o momento do abastecimento, delimitado pela volta da invasão da lagartixa (invadiu, safety-car, pit-stop, enquanto se recolhe o invasor aos costumes), pondo, assim, um final nos intermináveis e lotéricos, cálculos de consumo, que tanto infernizam a vida de Dona Izildinha, "temente a Deus", mãe de Anabel e Luzia, beata fortíssima, devota da Santa do mesmo nome, torcedora fervorosa de Rubens, que vai à missa das seis aos domingos de corrida, só para não perder a largada.
Os torcedores do alemão dirão com suas razões: "Mas vai ser campeão do mesmo jeito este ano", e novamente eu invoco o fiscal de praia: "Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa"...
Para não perder a viagem, aproveito este momento para a gloriosa frase de segurança máxima contra encheção de saco: não estou dizendo que Rubens é melhor do Miguel, não tenho nada contra o cara, isso não quer dizer que eu não respeite alguns títulos (isso mesmo, alguns) e conquistas do cidadão, apenas não gosto dele. Posso? "Mas ele foi eleito embaixador da República de San Marino e tem várias comendas", diriam os mais radicais, completando: "Isso não vale nada?".
"Meu querido, por gentileza, chega mais, caiu aqui um botão da braguilha, se o campeão do mundo fosse o Verstappen, o embaixador seria ele, Jos ‘The Boss’. A diferença é que ele iria sair na foto coçando o saco".
Como? Ficou surpreso com a declaração de Miguel? Não esperava? Mas como assim, "quando ajudou"? Foi revoltante a candura do olhar para a câmera, questionando o seu momento amnésico? Então Rubens vem durante todo este tempo, engolindo sapos à milanesa a troco de nada? Mas não deu um troféu em agradecimento a toda ajuda que recebeu? Não cansou de copiar a receita do bolo? Freud explica? O outro não teve que ouvir cobras e lagartos pelo rádio, além da historinha de que a felicidade até existe e etc.? E agora é que avisam que é cada um por si?
Amigão, ficou surpreso porque quis. Não foi a primeira, não será a última.
Pela primeira vez, peço licença e desculpa, para usar uma frase que nunca gostei ou usei: eu avisei.
Cristiano, parabéns, bela amostragem sem dúvida, apesar da equipe. Tudo indica que vêm aí bons ventos, pelo menos preparado para eles, você mostrou que está, que o diga Kimi. Belo trem de puxar fila de GP. Não acredite nesta história de que Juan estava manco, tio David estava com um carro tanque, que Miguel estava morto e etc. Eu mesmo ouvi algumas vezes, "lá vem o Schumi", claro que eu não o vi, mas juro que ouvi. Por falar nisso, teve uma briga muito bonita, histórica mesmo, só que até agora não sei quem era contra quem. Se o Alemão contra Fernando, que, aliás o Espanholito já tinha tomado com a porta do convento na cara, logo após a largada, quando ia passar o Alemão antes da primeira curva. Ou se era Rubens contra Trulli.
Antonio, missão cumprida, não foi das melhores, eu sei, mas foi melhor assim. Pelo menos acabou a choradeira, a reclamação e as intermináveis desculpas. Confesso que algumas vezes até mentalizava para o João Pedro não te encontrar, não por nada, apenas para evitar o óbvio, como você por contrato não poderia falar que o seu engenheiro era um anu, o equipamento, bem sem-vergonha, e a equipe, a parte traseira da sucuri, iríamos cair no muro das lamentações de sempre. Realmente estava um saco. Aproveite, vá até Santiago de Compostela pela graça alcançada, e ao fato de ter saído com vida daquele caldeirão. Você é jovem e a meta ainda pode ser a F-1 na sua vida, sem dúvida, mas não espere muito tempo. Ou equipe boa, se tio Frank abrir para trabalhar com Gené, com certeza será uma boa para manter a forma, e lá você estará entre amigos. Caso contrário, vá ganhar dinheiro nos Estados Unidos. Você tem uma noiva maravilhosa, uma grande campeã, que vai precisar muito do seu apoio nos próximos jogos. Estamos todos torcendo por uma medalha de ouro para ela, no Pan-americano de Santo Domingo.
Para o Canguru ter dado graças a Deus pela sua saída (honesto da parte dele, afinal a gente sempre sabe da onde vem o chumbo), imagino que de graça não foi, da mesma forma que fico imaginando alguém como Jackie Stewart, se lamentar tanto, pela perda de um piloto da sua categoria. De graça, também não deve ter sido. Toca a vida. Logo pinta coisa nova. Acredite, os caras estavam te desmoralizando. Melhor deste jeito. Nada na vida acontece por acaso.
Voltando a Rubens, não, não vou comemorar, afinal sempre defendi esse tipo de comportamento dele, sempre achei ele capaz de fazer este tipo de coisa, e, olha, não foi a primeira vez, apenas na Inglaterra deu certo. Quem acompanha ao longo do tempo a coluna, sabe disto. Fiquei sim, muito contente pela hora em que veio esta vitória, talvez ela possa determinar um novo comportamento, uma nova fase, ou então não mudar nada, e tudo voltar como antes na terra de Miguel, próximo GP talvez, quem sabe...
Aconteça o que acontecer, foi uma vitória de encher os olhos, como aquelas que estávamos habituados a ver aos domingos de manhã com aquele carro vermelho e branco.
Se alguém foi à pista para ver Arnold e Miguel, viu o Exterminador de Silverstone até o talo.
Engraçado, você sabe que além da risada do Mutley que eu ouvia na hora da corrida, tinha mais uma no fundo, não deu para identificar direito, mas por um momento achei que... não, não foi nada, foi só impressão.
Muito bem, como não sou supersticioso, e não acredito em Bruxas (por isso casei com a Phoebe), vou terminar a coluna do mesmo jeito que encerrei a outra, vai que numa destas...
E Rubens (agora em sua nova fase, “não estou nem aí”)? O que fará Rubens na Alemanha?
Será que vai ganhar? (todos em coro).
[Texto emprestado compulsoriamente do site www.grandepremio.com.br]